quarta-feira, 30 de abril de 2014

[Postagem do Dia] O culpado é o estuprador, sem conjunção adversativa.

Fonte
É uma questão simples de lógica: quem estupra é o criminoso, o estuprado é a vítima. Há mesmo que se questionar isso? O estuprador dá apenas duas opções para a sua presa: ou você cede ou você morre. Trata-a como um bicho em abate, ali é o seu objeto de prazer, o seu animal de caça. Prende, agride e faz dela o que bem entende, almejando satisfazer todos os seus desejos doentios. A sociedade pegou esses dois personagens e distorceu toda uma noção de culpado e vítima. Aos seus olhos, o agressor é refém de uma mulher que incorpora a “Eva”, seduzindo e provocando o seu próprio mal, como uma consequência inevitável.

Por muito tempo a visão que foi criada da mulher vagava em dois polos distantes, em um primeiro momento deveria se enquadrar na imagem da “Virgem, Maria”, entrando em um conflito intenso no momento em que adentrava na maternidade, deixando de ser inocente aos olhos críticos do meio em que estava inserida, para ser a “Eva”, perversa, histérica e masoquista:

“O Cristianismo, a partir da figura de Eva, instituiu uma relação entre feminilidade, o sexo e o pecado – as mulheres como seres traiçoeiros que atiçavam a luxúria e o ciúme, lançando os homens uns contra os outros. Consideradas culpadas pela “queda” de Eva, no paraíso, corporificando a corrupção associada à carne, era tidas como fracas e suscetíveis” (Pensamento de RAMINELLI, nas palavras da Dra. Maria da Luz Olegário em sua tese de doutorado).

O interessante é observar que essa visão que foi formado a séculos atrás, ainda que com outra roupagem perdura até os dias atuais, atualmente esse discurso se encobre por meio de outras feitas, a dualidade feminina ainda é colocada como causador de diversas práticas que a agridem, as pessoas desejam guiar a forma do outro, culpabilizam para poder manter o controle dos seus comportamentos, vestimentas, modo de falar e de agir, tornando-se “estuprável” aos conceitos culturais.

Pela lógica do estupro, a mulher é sempre 'caça', 'presa'. Pela lógica do estupro pensa-se mais no 'erro' da vítima, do que no 'erro' do criminoso. É como se a vítima fosse culpada por não ter escapado, por não ter corrido mais rápido, por não ter desaparecido antes. Ou por ter 'parecido' mulher demais. No Brasil e em muitos outros países, como a Índia – para dar o exemplo do país mais estuprador do mundo – a lógica do estupro faz com que mulheres precisem camuflar-se para sobreviver. Mas mesmo assim, bem protegidas, elas serão estupradas.(Márcia Tiburi em "Lógica do Estupro")

O que acaba sendo irônico nessa matemática óbvia, é que a sociedade conseguiu inverter os papeis, como um autor que guia a sua novela de acordo com o desejo do público, porém estamos lidando aqui com a vida real, e a realidade neste caso dói, sangra e deixa sequelas que repercute por toda a história daquele que está sendo agredido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Opine!