terça-feira, 6 de maio de 2014

[Postagem do Dia] O Machismo como precursor da homofobia

A homossexualidade é tão antiga quanto à heterossexualidade, ou seja, as diversas manifestações de sexualidade sempre existiram, o que modificou durante a história foi a forma como as mais variadas culturas as trataram. No mundo antigo, por exemplo, o amor entre homens era amplamente aceito, não sendo valorizado apenas aquele que se colocava no polo passivo, visto que essa posição era destinada à mulher. No momento em que o homem em uma relação com outro tomava o posto de ativo da relação, então não havia problema algum, a respeito disso Paulo Vecchiatti argumenta “Isso se explica porque o machismo, já naquela época, vislumbrava o ato sexual ativo como a postura masculina, sendo o ato sexual passivo tido como uma postura feminina”. Vemos então que a raiz do preconceito desde a antiguidade foi a postura machista da sociedade, no qual confundia expressão de sexualidade com manifestação de gênero, rebaixando a mulher e todos aqueles que adotassem papeis que eram incumbidos a elas. Deste modo, o sexo biológico envolvido não era determinante para uma postura discriminatória, mas sim a forma como o sujeito estava desempenhando o papel sexual na cama. Diante disso, não há como se falar muito em homoafetividade entre mulheres nessa época, uma vez que para ter relações sexuais o papel do homem se fazia indispensável, o que não significa que não existia, apenas era ignorado. Assim sendo, a postura machista foi o que impulsionou as primeiras manifestações de repúdio ao amor entre pessoas do mesmo sexo, tanto na postura de “passivo” do homem, como na ignorância do amor entre mulheres.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

[Postagem do Dia] Idade mínima para casar: 9 anos.


É desse modo que o Iraque consolida o retrocesso em seu país. Uma garota aos nove anos de idade ainda tem o seu corpo em formação, a sua personalidade a ser definida, está descobrindo agora o prazer de se divertir com as suas bonecas, de poder errar sem medo de ser punida, porque é neste momento que está aprendendo e descobrindo como é viver com os seus tropeços. Imaginar uma criança ser submetida, por meio da imposição de uma lei do seu país, a casar com essa idade e o pior, estar obrigada a saciar sexualmente o seu marido, visto que é um dever da mulher em matrimônio, é quase inacreditável, acompanhado com os sentimentos de lamento e de  revolta.

Essa proposta de lei, obviamente é de iniciativa dos mais fundamentalistas, os xiitas, e o intuito é de abranger somente essa parcela da população (que corresponde atualmente a 60% no Iraque), denominado Lei Jaffari (em homenagem ao santo do islã xiita – Jaffari Al Sadiq), tendo como intuito a implementação  de um novo código de família que entra em choque diretamente com a atual Lei do Status Pessoal, considerada uma das que mais beneficiam as mulheres em países árabes.

Uma das justificativas para colocar em prática os novos parâmetros que a lei estabelece é que por ser um país islâmico, a sua religião ultrapassa os ditames da lei civil, deste modo, devendo seguir o sharia (lei islâmica). Além disso, podemos ver claramente que o Projeto vem com teor e embate político, quando Jamila Ali Kirani, do partido xiita declara que “passamos muito tempo sob lei sunita, queremos uma lei para nós”. Esclarecendo: Os sunitas e xiitas se apresentam como uma das mais significativas divisões do mundo islâmico, tendo divergências e grandes rivalidades históricas.

Dentre os dispositivos da proposta de lei estão: a redução da idade mínima de casamento para mulheres de 18 (dezoito) para 9 (nove) anos de idade; a mulher só poderá pedir divórcio se conseguir provar que o seu marido é impotente ou que seu órgão sexual foi amputado; as xiitas iraquianas só poderão sair de casa, com autorização prévia do marido; deverão estar sempre disponíveis para ter relações sexuais; além disso, a lei incentiva a poligamia (por parte dos homens); visa banir o casamento de muçulmanos com pessoas de outras religiões. De acordo com Hana Edward, a secretária-geral da ONG Al Amal, que milita a favor da igualdade de gênero, “esse projeto é doentio, e eu o considero crime contra a humanidade” e acusa o governo de se utilizar desse projeto para atrair o voto conservador, sendo esta uma jogada eleitoral antes do pleito parlamentar.

Nos países ocidentais presenciamos, atualmente, grandes avanços quando se trata dos direitos da mulher e a constituição familiar, olhando o panorama de um país como o Iraque, é de se abismar o quão atrasado é a efetivação dos direitos do cidadão e, o pior, ainda consegue sugerir um retrocesso ainda maior. A luta do lado esquerdo do mapa foi árduo e milenar, hoje colhemos os frutos de batalhas constantes, é deplorável ler notícias que entram em choque com todas as conquistas já alçadas e ainda saber que a nossa sociedade já passou por esse período.

Diante dos embates políticos e religiosos pelo qual o Iraque vive, é até difícil buscar uma interferência eficaz para que se impeça que tal lei se efetive, é desejar que a sociedade desperte para uma visão mais abrangente e que não se justifique os posicionamentos ortodoxos e preconceituosos com a sua religião. O mundo é outro, a sociedade é outra, as mudanças estão ocorrendo a todo momento, esta lei não apenas rebaixa a mulher diante do homem, como também suga toda a sua dignidade e a reduz a um objeto de satisfação do seu parceiro. Que ao menos sirva como exemplo à nossa sociedade quando a mesma lidar com situações que ferem à dignidade da pessoa humana e acabam passando despercebida ou justificada com o livro sagrado.

*Texto publicado na versão impressa do Jornal de Fato de Mossoró-RN, na página 2, do dia 01/05/2014. Disponível em: Edição 3951