segunda-feira, 13 de julho de 2015

"Lésbica": Quem Criamos esse Nome?

Eu fico triste porque tínhamos um nome e parece que logo não teremos mais. Nós mesmas escolhemos esse nome para nos dar - "Lésbicas" veio das teorias lesbicas, corajosamente independentes das mulheres heterossexuais e do heterofeminismo, e independente também dos homens gays. Nossas teorias foram criadas por meio de uma dura quebra de silêncio, quando uma certa categoria do sexo feminino, com vivência social comum, se reuniu e se reconheceu, decidindo ousar criar um nome próprio. O movimento lésbico autônomo investigou em detalhes as características específicas da opressão vivida pela categoria. O nome "lésbica" veio da luta solitária e estrondosa dessa categoria, delas e de mais ninguém.

Foi então que teorias externas à nossa, criadas por homens gays, pegaram nosso nome e disseram que nao cabe mais a nós decidir o significado do nome que nós mesmas nos demos. "Lésbica" se referia ao sentido político que a sociedade enxergava nas práticas lésbicas, e no sentido político que nós mesmas vimos no amor lésbico: resistência. Tais características eram comuns a todas nós: recusa do falocentrismo, recusa do machocentrismo, amor a uma outra coisa, amor e carinho pelos nossos corpos. O feminismo heterossexual nunca tentou esconder seu ódio a lésbicas e preferência por homens gays (a pauta é sempre homofobia, nunca lesbofobia; chamam homens gays a falar em vez de sapatonas). Assim, não surpreende que elas tenham preferido adotar teorias gays a teorias lesbicas. De repente feministas heterossexuais e movimento de homens gays começaram a pressionar as lésbicas que militavam no heterofeminismo e no lgbt a recusar sua história, a recusar nossas teorias, a recusar nossas vivências, nossas próprias memórias.

E, pressionadas por meio de força psicológica e frequentemente física, os movimentos não-exclusivamente-lesbicos fizeram lésbicas desistirem de outras lésbicas, desistirem da confiança no que sentiam desde adolescentes e, com isso, elas passam a brigar com outras sapatonas - as que não abrissem mão de suas próprias memórias. Os movimentos macho-identificados trataram de esconder a memória do movimento lésbico, traduzindo e tornando conhecidas as teorias europeias masculinas, mas nunca as teorias lésbicas. Agora que já não podem mais esconder, tratam de demonizar nossas teorias. Lésbicas que não trabalham para o falocentrismo não têm valor. Lésbicas que lutam por lésbicas e portanto contra o falocentrismo não têm valor social. Ou melhor, têm sim, mas é um valor revolucionário que precisa ser contido, roubado, esvaziado de sentido e finalmente estuprado. 

Aquelas que estão contra o falocentrismo estão perdendo o nome porque os movimentos não-exclusivamente lesbicos transformaram o nome que inventamos em outra coisa: não temos mais direito a ele, não temos direito a nome. Poderíamos criar um novo, para nossa especificidade? Mas o nome que inventamos já era específico, bem definido, e mesmo assim a definição que demos foi apenas amassada e jogada na lixeira, e nossa própria criação nos foi roubada. Não tem sentido pensar que aconteceria diferente, se criássemos um nome novo. 

É egoísmo nos nomearmos: pior, é perigoso para o falocentrismo e para todos os colaboradores e colaboradoras dele. Nós temos direito ao nosso nome, direito de defender o significado dele, tomarmos as rédeas de dizer o que é parte da nossa opressão e o que não é, o que é lesbiandade e o que não é. Também temos direito de visibilizarmos o que amamos, em vez de precisarmos novamente sussurrar isso, envergonhadas de nós mesmas, entre sapas - enquanto gritamos junto do heterofeminismo e do LGBT o que eles nos forçam a gritar. Ser lésbica sempre foi um lugar social, muito antes de se tornar uma identidade, e virou identidade somente como esforço NOSSO, de fortalecer nossa sobrevivência nesse lugar onde estupro corretivo é a lei.

Mas mesmo que roubem esse nome, e o próximo, e nos expulsem de todos os nomes que usarmos, mesmo sem nome ainda teremos um lugar social dedicado apenas e exclusivamente a nós. Um lugar ao qual ninguém passa a ter acesso por conta de um nome, e ninguém deixa de fazer parte apenas mudando nomes ou inventando teorias. Ceder meu nome não cede o lugar social que nos foi imposto e só a nós. Esse lugar me foi imposto pela sociedade patriarcal e falocêntrica devido à minha recusa, porque fui treinada desde cedo para engravidar (e engravidar tem que ser "à moda antiga", "do jeito tradicional"), e neguei tudo isso. Parem com a política das palavras, vamos fazer política na materialidade: uma política de e para lésbicas, sem a invasão de movimentos falocêntricos.



Precisamos saber o que a história das nossas próprias teorias têm a dizer sobre nós, sobre o que sofremos, sobre como podemos militar, quais as dificuldades. Antes de ler qualquer coisa, lésbicas precisam ler lésbicas que escrevem para lésbicas.

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[Postagem do Dia] Sense8 é bem mais do que diz a descrição



Fazia tempo que eu não assistia algo que me instigasse a escrever e indicar. Se não me engano a última foi o filme “Her”. E, apesar de alguns acharem que “Orange Is The New Black” poderia se encaixar, discordo totalmente. Mas isso é assunto para nova postagem. Hoje, a série que merece atenção e todos os aplausos é a “Sense8”, ressaltando que essa postagem não tem como foco explicar o enredo da série, apenas alguns pontos que merecem destaque e que dão fulcro a trama.

Diante da larga produção de entretenimento de baixa qualidade que tem como objetivo atrair o maior número de telespectadores, a série original da Netflix, sense8, se destaca. Não é exagero dizer que ela é uma série com elevada sobrecarga de militância, seja a militância do amor, do respeito ou da diversidade, como queira chamar.

É uma trama, de início, complicada de ser compreendida, não há como negar. Por vezes, dá um nó na cabeça tentar entender como funciona o desenrolar da história. Mas isso é resultado do mercado superficial de filmes e séries. Sense8 não se trata apenas do que o nosso discernimento diz no início, ela vai além, e quando compreendemos isso, compreendemos o enredo. A série não é sobre um fato impossível (até então ou o que o nosso conhecimento sobre biogenética permite) de existir que é a anomalia genética que liga oito pessoas. Mas sim, sobre a ligação psico-sentimental que estabelecemos diariamente.

A série mostra que vivemos numa superficialidade sentimental constantemente, que estabelecemos elos vazios, motivados por motivos alheios do que realmente deveria ser. E o fato de ter oito pessoas ~ obrigatoriamente ~ ligadas entre si há um apelo maior e consegue enfatizar como se dá uma ligação pura entre duas ou mais pessoas. Deste modo, pontos como companheirismo, compreensão, doação, profundidade nas relações pessoais, entrega etc., são fundamentos chaves para a construção do relacionamento entre esses sujeitos.

Além disso, outro ponto que me chamou atenção na série foi o discurso sem vícios de preconceito. O discurso falado ou demonstrativo, subjetivo. Por exemplo: na série existe um casal composto por duas lésbicas, uma delas é transexual. Onde podemos ver esse tipo de coisa? Isso é um assunto silenciado na nossa sociedade.


A série é cheia de munição, não daquela que propaga ódio. Mas sim, daquela que combate a opressão, o des(amor). Vale a pena. Muito a pena. Fica a indicação.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Redução da maioridade penal por causa de estupros? Balela

Esse povo não está nem aí para “mulheres estupradas”. Alguém acha que Bolsonaro, que desejou que uma mulher fosse estuprada, se importa com isso?


Para a galera conservadora, estupro era culpa da mulher que “provocou”, “andou sozinha na rua à noite” ou “bebeu”. Até eles resolverem usar o estupro no tom “e se fosse sua filha estuprada por um menor? E se fosse sua mulher?”.
Me dá vontade de morrer esse argumento. Sequer é um argumento.
Existem menores estupradores? Existem. Eu mesma fui vítima de três deles e achei que fosse culpada do que aconteceu durante boa parte da minha vida. Se eu acho que a redução da maioridade penal teria me trazido justiça? Não acho. Aqueles moleques brancos e de classe média seriam vistos como jovens que cometeram “um erro”. Essa medida, se aprovada, vai se voltar contra a população de baixa renda. Contra preto. Contra pobre. Os menores com grana que cometerem crimes vão continuar se safando, assim como boa parte dos adultos com grana.
Esse povo não está nem aí para “mulheres estupradas”. Alguém acha que Bolsonaro, que desejou que uma mulher fosse estuprada, se importa com isso? Bolsonaro, aquele que diz que tem que TIRAR criança da escola e colocar na cadeia?
Óbvio que não. É apenas um argumento fácil para ser a favor da redução. Essa Câmara não está nem aí pra mulher alguma, diga-se de passagem. E não custa lembrar que 70% dos estupros acontecem em casa e são cometidos por conhecidos ou familiares.
Como escreveu a Mari, minha colega de blog"Os caras querem colocar a maioridade penal nas nossas costas, falando que ´evita estupros´, mas vale lembrar que na hora de defender os direitos mais básicos e reais das mulheres eles seguem não fazendo nada. 
Ainda sobre estupro: cerca de 7% dos estupros no País resultaram em gravidez, mas 67,4% das vítimas não tiveram acesso ao aborto legal na rede pública, conforme previsto em lei."
Eu já tive que acompanhar uma mulher violentada até o Pérola Byington, hospital em São Paulo que deveria ser referência em atendimento a mulheres que passaram por violência sexual, e é claro que não é fácil como imaginam. As pessoas acham que é só chegar e falar “olá, fui estuprada e gostaria de fazer um aborto”. Já sabemos que as Delegacias da Mulher não são ambientes nada acolhedores e o hospital, que deveria cuidar da mulher vítima de violência, também não é.
O aborto em caso de gravidez resultante de estupro, previsto em lei, é dificultado em todas as etapas do atendimento.
Então não venham nos usar de argumento nesse Congresso imundo dizendo que querem a redução da maioridade penal porque estão preocupados com as mulheres e os menores estupradores.
Não coloquem mais isso nas nossas costas.
Os menores infratores já são responsabilizados, e o índice de reincidência no sistema socioeducativo é menor; no Brasil, os adolescentes são mais vítimas do que autores de crimes; o sistema prisional já está superlotado, com quase metade dos presos aguardando julgamento (lotar ainda mais é uma ótima desculpa para privatizar as cadeias). Não é reduzir a maioridade penal que vai resolver nossos problemas.
Quer mais razões? Tem aqui.
E quem acredita que o Congresso está representando os interesses do povo porque “é o que a maioria quer e isso é democracia”, fique sabendo que a maioria, além de ser a favor da redução da maioridade penal é também contra o casamento gay, contra a legalização do aborto, contra a existência de pessoas trans (o que dizer então de cirurgia de transgenitalização), contra cotas para negros na faculdade e, se bobear, a favor da pena de morte. É isso que você acha certo?

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quarta-feira, 8 de julho de 2015

ESTUDO: Violência contra a mulher foi o 2º crime mais atendido pelo MP

Mais de 300 mil inquéritos policiais envolvendo violência doméstica contra a mulher foram movimentados pelo Ministério Público (ESTUDO)



Passados quase 10 anos da vigência da Lei Maria da Penha, a violência doméstica contra a mulher no Brasil ainda é um problema grave. É o que mostra recente levantamento do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)divulgado no último dia 23 de junho pela entidade.
De acordo com o relatório, 306.653 inquéritos policiais relacionados à violência doméstica contra a mulher foram movimentados pelo Ministério Público de todo o País no ano passado. Desse total, 283.655 viraram processos criminais.
Em quatro das cinco regiões do País – Nordeste, Centro-Oeste, Norte e Sul –, foi o segundo crime entre os inquéritos que chegaram aos promotores – atrás apenas dos crimes contra o patrimônio. Apenas os três Estados do Sul brasileiro – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – respondem por 79.768 inquéritos do assunto.
Apesar dos dados, os números definitivos sobre a violência doméstica contra o Brasil ainda necessitam de maior refinamento, conforme apontou um levantamento doInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Em março deste ano, o estudo ‘Avaliando a efetividade da Lei Maria da Penha’ – citou que 1,3 milhão de mulheres foram vítimas de violência doméstica no Brasil em 2009, e 43% das brasileiras já alegaram ter sido vítimas de algum tipo de violência durante a vida, seja ela verbal ou física. Das agressões que acabaram em morte da mulher, 90% dos autores eram conhecidos pela vítima, o que comprova o que o material chamada de “cultura do patriarcado e sua expressão machista”.
Em outro relatório do Ipea, divulgado na mesma oportunidade, foi constatado que 48% das mulheres agredidas tinham sido vítimas dentro de suas próprias casas, e que o número de assassinatos de mulheres ficou estável a partir de 2006, após a implementação da Lei Maria da Penha, enquanto os homicídios de homens no País subiu nos anos seguintes.

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[Postagem do Dia] O povo brasileiro sabe o que é machismo?

O movimento feminista no Brasil está passando por um período extremamente crucial. Por alguns motivos:

Antes de tudo, existe um grande estigma acerca da temática. Exemplos: toda feminista é sapatão, mal amada ou frígida. Feministas são anti-higiênicas, pois não tiram seus pelos. São máximas equivocadas, mas que, por muito tempo, foram propagadas como verdades absolutas, assim como todas as construções discursivas que tem como finalidade desvirtuar o real objetivo do que se fala. Todavia, atualmente, o movimento feminista está sim conseguindo desconstruir esse discurso.

Diante disso, algumas coisas podem ser observadas: a maior participação da figura masculina na defesa da luta feminista; maior propagação do que é feminismo; maior conhecimento da população da importância do feminismo para a sociedade.

Por fim, nota-se que, apesar de não ser o ideal, o feminismo está conseguindo entrar na casa do/a brasileiro/a, seja de forma receptiva ou não. E, acima de tudo, explicando-nos, dia após dia, o que é o machismo e como é cruel a sua materialização.

Ainda assim, nós mulheres, somos vítimas diárias de comportamentos machistas, que vão de pequenas proporções (cantadas insistentes e invasivas) até aqueles que podem destruir a vida de alguém (buscar culpa na própria mulher por ela ter sido estuprada).

É nesse contexto que nas últimas semanas me deparei com essa imagem:



E me perguntei: será que isso aconteceria se fosse um homem?

E me abismei: várias mulheres na minha rede social estavam compartilhando.

A ofensa vai muito além da figura da presidentA, ela não foi a única ofendida e pouquíssimas pessoas se deram conta disso. Essa imagem não deveria existir, mas enquanto existe deveria ficar na cabeça de todos/as até que consigamos, finalmente, compreender o quanto ela é ofensiva, o quanto ela atinge a mulher, a dignidade, a existência feminina. O quanto ela rebaixa. O quanto ela denigre. E o quanto ela é machista.

“Mas, a intenção foi atingir o Governo Dilma”

Não, não foi. Coloquem isso na cabeça.


Para dizer que um Governo ou um/a governante é ruim, isso não se faz ofendendo a sua dignidade, mas sim a sua gestão. Essa foi uma ofensa à pessoa, à dignidade e, acima de tudo, à nós – mulheres.

Antes de criticar saiba: é esse o maior combate do feminismo.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Moçambique descriminaliza homossexualidade e aborto


O Moçambique descriminalizou a homossexualidade, ao aprovar reformas a um código de leis que datava de 1886, época que o país - independente desde 1975 - ainda era uma colônia portuguesa.
De acordo com o site Pink News a homossexualidade podia ser punida no país com três anos de trabalhos forçados, internação em uma instituição psiquiátrica ou afastamento das atividades profissionais.
lei que estava em vigor até esta segunda, previa nos artigos 70 e 71, pena "aos que se entreguem habitualmente à prática de vícios contra a natureza". Com a medida, o Moçambique se torna a 21ª nação africana a legalizar as relações entre pessoas do mesmo sexo, segundo o International Business Times.
Segundo a publicação espanhola El Mundo, tais penas não eram aplicadas desde 1975. O novo código penal, que entra em vigor nesta segunda-feira (29), foi articulado pelo presidente Armando Guebuza, que deixou o poder no começo deste ano.
Relações homossexuais ainda podem ser punidas com a morte em países como o Sudão e a Mauritânia.
O novo código penal, que entrou em vigor sem nenhuma cerimônia para marcar a data, também inclui um artigo para legalizar o aborto, segundo o El Mundo.
A principal organização LGBT do país, a Lambda, que teve papel fundamental na aprovação da lei, foi cautelosamente otimista sobre o processo, mas afirma que a aprovação da lei é um importante passo para uma sociedade mais igualitária.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Suprema Corte dos EUA aprova o casamento gay em todo o país



Numa decisão histórica, a Suprema Corte dos Estados Unidos legalizou nesta sexta-feira (26) o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todo o país. Os 13 estados que ainda proibiam não podem mais barrar os casamentos entre homossexuais, que passam a ser legalizados em todos os 50 estados americanos. A decisão veio por cinco votos contra quatro.

O casamento tem sido uma instituição central na sociedade desde os tempos antigos, afirmou o tribunal, "mas ele não está isolado das evoluções no direito e na sociedade". Ao excluir casais do mesmo sexo do casamento, explicou, nega-se a eles "a constelação de benefícios que os estados relacionaram ao casamento".
O tribunal acrescentou: "O casamento encarna um amor que pode perdurar até mesmo após a morte". "Estaria equivocado dizer que estes homens e mulheres desrespeitam a ideia de casamento... Eles pedem direitos iguais aos olhos da lei. A Constituição lhes concede este direito", ressaltou, segundo a agência AFP.
A decisão não entrará em vigor imediatamente porque a Suprema Corte concede ao litigante que perdeu o caso aproximadamente três semanas para solicitar uma reconsideração, como informa a Reuters.
O caso analisado pela decisão desta sexta se referia aos estados de Kentucky, Michigan, Ohio e Tennessee, onde o casamento é definido como a união entre um homem e uma mulher. Esses estados não permitiram que os casais do mesmo sexo se casassem em seu território e também se negaram a reconhecer os casamentos válidos em outros estados do país.
O representante da ação na Justiça foi Jim Obergefell, que viveu 21 anos com John Arthur, em Ohio. Ele queria que o casamento fosse formalmente reconhecido na certidão de óbito de Arthur, quando ele morresse. O companheiro tinha esclerose lateral amiotrófica, doença que não tem cura. Os dois chegaram a se casar em outro estado, mas a união não era reconhecida em Ohio.
A história de Obergefell consolidou os casos de 19 homens e 12 mulheres, de outros quatro estados.
Há dois anos, a Suprema Corte anulou parte da lei federal contra o casamento gay, que negava uma série de benefícios governamentais para os casais do mesmo sexo que tinham se casado legalmente.
Celebração

Nesta sexta, centenas de pessoas se reuniram nos arredores da Suprema Corte, no centro de Washington, para comemorar a decisão dos juízes.

Como informa a agência EFE, o governo do presidente Barack Obama já tinha manifestado abertamente sua postura a favor do casamento homossexual depois que, pela primeira vez, o próprio líder declarou apoio à causa em 2012.
Obama disse no Twitter que a aprovação é um grande passo para a igualdade de direitos. "Casais de gays e lésbicas têm agora o direito de se casar, como todas as outras pessoas. #Oamorvence", disse o presidente. Ele fez um pronunciamento e disse que a decisão é uma "vitória para a América".
A pré-candidata democrata à presidência dos EUA, Hillary Clinton, também comemorou a decisão em seu perfil na rede social.
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#LoveWins #LoveIsLove

Deixe sua foto de perfil com as cores do arco-íris em apoio ao casamento gay


O Facebook liberou uma ferramenta que permite ao usuário colocar um filtro arco-íris em sua foto de perfil na rede social. A novidade comemora a decisão da Suprema Corte americana, que legalizou nesta sexta-feira, 26, o casamento gay em todos os 50 Estados.
Para alterar a foto de perfil, o usuário precisa apenas acessar a ferramenta, batizada de "Celebrate Pride"(acesse aqui). Uma prévia da foto com o filtro arco-íris é apresentada. Ao clicar no botão "usar como imagem de perfil ", a ferramenta adiciona automaticamente o recurso à sua foto do perfil existente.
Facebook não é a única grande empresa que comemora a decisão da Suprema Corte. Dezenas de outras companhias, autoridades e famosos  acrescentaram as cores da bandeira do arco-íris associado com orgulho LGBT em seus logos e perfis nas redes sociais.
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#LoveWins #LoveIsLove

Beco feminista pela discussão de gênero no Plano de Educação


Por César Santos

Nesta sexta (26) vai ter beco feminista com batucada, forró e quadrilha.
O bloco carnavalesco “Alô Frida” realizará a sua primeira intervenção no Beco dos Artistas a partir das 18h, destacando a importância de se discutir gênero em todos os espaços.
Em meio a campanha contra a aprovação, pela Câmara Municipal de Mossoró, do projeto que retira as possibilidades de discussão de gênero do Plano Municipal de Educação e, consequentemente, das escolas, o ArriáBeco do Alô Frida contará com a participação de Celia Aldridge, coordenadora da E-CHANGER Brasil, agência suíça de cooperação de pessoas, e militante da Marcha Mundial das Mulheres de São Paulo.
Ela vai falar sobre a importância de discutir gênero e diversidade para construção de novas relações humanas sem machismo, LGBTfobia, sexismo e violência sexista na escola e em todos os lugares.
A programação terá muita música, poesia e quadrilha improvisada “sem essa de só dançar homem com mulher”, diz Everlaine Rocha, integrante do Alô Frida e cantora que se apresentará no palco aberto.
“É importante chegar cedo para participar do debate. Porque pra festa ser ainda mais bonita, a gente precisa fazer parte da mudança de mundo que queremos e o debate nos ajuda nisso. Como diz o refrão do nosso hino: Se tem machismo, racismo, eu falo! Eu não me Kahlo, eu não me Kahlo! Sem fobia a folia será colorida. Alô Frida! Alô Frida!”
O Bloco Alô Frida, é a reunião de várias militantes feministas da cidade que participou do Pingo da Meia Noite, no Carnaval de Mossoró, inovando com cores e lutas.
E o que parecia apenas uma forma diferente de se divertir tem se tornado motivo para reunir e somar mulheres para defender a causa da igualdade entre as pessoas, por isso, Conceição Dantas, da Marcha Mundial das Mulheres acredita que: “outra cultura, uma cultura feminista é possível, enfrentar o machismo de forma irreverente e ousada é nossa marca para que sejamos cada vez mais livres”. E dispara: “as mulheres gostaram de estar juntas no carnaval e por que não continuarmos? Vai ter arraiá feminista, sim!”.
O que? Beco do Alô Frida
Quando? Hoje às 18h
Endereço: Rua Travessa Martins Pena (Ao lado do Teatro Lauro Monte Filho)



quarta-feira, 24 de junho de 2015

ONU Mulheres lança site em português do Movimento ElesPorElas

Expectativa é aumentar as adesões do Brasil por meio do cadastro de milhares de homens e meninos em defesa de direitos e igualdade para mulheres e meninas por meio da página www.heforshe.org/pt

A atriz Emma Watson é embaixadora da ONU Mulheres. Foto: ONU Mulheres
A partir desta sexta-feira (19), o público de língua portuguesa passa a contar com conteúdos no idioma no portal do Movimento ElesPorElas (HeForShe) de Solidariedade da ONU Mulheres pela Igualdade de Gênero:www.heforshe.org/ptA plataforma está disponível em outros cinco idiomas: inglês, espanhol, francês, turco e chinês.
“Este é um movimento solidário pela igualdade de gênero. Ao assegurar conteúdos em português, convidamos os mais de 300 milhões de lusófonos para manifestar o seu apoio individual por meio do cadastro no mapa mundial. Chamamos, especialmente os mais de 100 milhões de homens e meninos brasileiros, para que demonstrem que o Brasil quer e se mobiliza em favor da igualdade entre mulheres e homens, meninas e meninos”, afirma a representante da ONU Mulheres Brasil, Nadine Gasman.
Ela ressalta a articulação com raça como um desafio para o Brasil. “A igualdade entre mulheres e homens no Brasil somente será possível através da articulação com a dimensão racial, com a finalidade de enfrentar o racismo. Este é o diferencial do movimento ElesPorElas no Brasil, para que mulheres negras e brancas, homens negros e brancos possam ter inclusão nas empresas, nas universidades, ter seus direitos garantidos pelas políticas públicas, tais como participação, representação e poder”, completa Gasman.
O Movimento ElesPorElas – Criado pela ONU Mulheres, a Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres, o movimento ElesPorElas (HeForShe) é um esforço global para envolver homens e meninos na remoção das barreiras sociais e culturais que impedem as mulheres de atingir seu potencial e a organizar juntos, homens e mulheres, uma nova sociedade.

[Postagem do Dia] Por que estudar "gênero" é importante?

Os estudos de gênero têm o seu impulso com o movimento feminista, que fez emergir diversas outras questões, como é o caso do machismo, do patriarcado, da divisão sexual do trabalho, dos preconceitos, da violência contra a mulher, da visibilidade LGBT, dentre outros assuntos. Deste modo, estudar gênero não é apenas compreender o ser humano, mas sim compreender este ser humano inserido em diversas relações que já estão ou são construídas. Ultrapassando a falsa ideia de que se limita apenas ao empoderamento feminino.

"Gênero" exerce um poder muito maior do que se possa imaginar, talvez por isso o seu estudo seja tão temido por determinados grupos sociais. Estudar gênero e compreendê-lo, é também compreender o homem, a mulher, e as construções sociais que lhe são impostas e norteiam toda a sua vida.

O estudo de gênero proporciona uma arma extremamente temida: o questionamento. Por que é atribuído às mulheres o instinto maternal? Por que o homem tem que provar constantemente a sua masculinidade? Por que para o homem é “normal” trair? Por que o gay é considerado uma abominação? Por que há uma determinação de vestuário, comportamento e relacionamento? Por que a mulher jogadora de futebol não é tão aplaudida quanto o homem jogador de futebol? Por que as mulheres estão em bem menos quantidade na política? Por que os homens sensíveis são discriminados? Por que somos chamados de homens e de mulheres? Por que há uma polarização de gênero? Por que há uma separação de sujeitos? Por que há hierarquização de pessoas?

Está vendo?

É perigoso questionar, por isso é temido o estudo de gênero. No momento em que o sujeito cresce sabendo do que se trata a sua existência e questiona o que lhe é imposto ele detém uma arma que pode quebrar um sistema vigente e lucrativo. E por esse mesmo motivo que o estudo é tão necessário, para que os indivíduos cresçam sabendo em que mundo vivem e com total capacidade de colocar abaixo o preconceito, a discriminação, o discurso de ódio e, consequentemente, a violência e a morte.


Diga sim para a implementação do estudo de gênero nas escolas. Não é uma doutrinação. Não é uma apologia. É conhecimento. É quebra de preconceito. É necessário.

#VetaPrefeito


#‎VETAPREFEITO‬ ~ Ontem, em manobra capciosa, a Câmara de Vereadores de Mossoró aprovou um projeto pelo fim da discussão de gênero nas escolas. A pergunta que fica no ar é: os vereadores sabem a importância da discussão do gênero e diversidade para a formação de cidadãs e cidadãos? Em meio a tanta misoginia, machismo, estupros e assassinatos de mulheres e LGBT's, o debate sobre Gênero e Diversidade possibilita a formação continuada da comunidade escolar visando a elaboração de estratégias para combater o sexismo, o preconceito, a LGBTfobia, a gravidez na adolescência, a violência sexista. E o Plano Municipal de Educação precisa, Mossoró precisa de gênero e diversidade na escola, sim!

#VETAPREFEITO


CRISTOFOBIA É CHACOTA FUNDAMENTALISTA

Por Erika Kokay

O projeto de criminalização da cristofobia é uma invenção que não corresponde a realidade e tem objetivo de transformar algozes em vítimas. Mas são os fundamentalistas religiosos que destilam ódio, através da intolerância religiosa e do ódio homofóbico, e isso não tem absolutamente nada de cristão. Defender a lógica cristã é defender o respeito ao outro, é defender o acolhimento de todos os seres humanos. Cristofóbicos são aqueles que buscam em nome de cristo perseguir, maltratar e odiar o seu semelhante.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Ideologia de gênero?

Por Fernanda Melchionna
Tramita na Câmara de Vereadores o Plano Municipal de Educação. Dentre outros temas, em sua meta 23, trata de uma educação para a diversidade. Institui uma política voltada ao combate aos preconceitos contra mulheres, LGBTs, negros e negras. Busca a construção de uma escola inclusiva.
Com muito espanto, recebi ofício da Cúria Metropolitana que argumenta sobre uma suposta ideologia de gênero. Analisando seus argumentos, me parece que ideologia de gênero é a que eles propagam!
Não é novidade que os papéis atribuídos aos gêneros sejam historicamente construídos. Isso não significa que não há diferença entre ambos, mas utilizar-se desta diferença para manter a opressão de um gênero sobre os outros é claramente uma ideologia reacionária.
Ideologia é um reflexo distorcido das práticas sociais. .No espelho torto da ideologia de setores da igreja, o fato de existir transgêneros, transsexuais e até mesmo homossexuais, seria uma distorção. Na verdade, este espelho é que esta distorcido porque insiste em fechar os olhos para a realidade.
A realidade é concreta e manter a invisibilidade da diversidade sexual e das identidades de gênero é uma forma de reproduzir preconceitos no país em que a cada dia um LGBT é assassinado, vítima do ódio. Garantir que a escola eduque a todos, inclua ao invés de discriminar, é o que está em jogo nessa discussão. Do ponto de vista do mercado de trabalho por exemplo, 90% das travestis e transexuais trabalha na prostituição. Justamente porque, pelo preconceito, são obrigadas a abandonar a escola e não são aceitas na imensa maioria dos postos de trabalho.
Entre essa ideologia e a intolerância as fronteiras são bastante pequenas. Tudo que pareça diferente não terá lugar na sociedade. Se não se pode aceitar a diversidade, o que fazer com ela? Seria o próximo passo tentar “corrigi-la”?
Felizmente, não são todos os setores da Igreja que pensam assim. Mais do que isso, não são todas as vertentes da fé cristã. Tenho certeza que contaremos com o apoio dos religiosos e das religiosas que não militam pela intolerância neste importante debate para Porto Alegre.

Câmara Municipal de Mossoró: O retrocesso ao nosso lado

Charge: Laerte


Matéria divulgada na página do Vereador Nacizio:

Projeto do vereador Nacizio contra ideologia de gênero é aprovado na câmara municipal de Mossoró


Hoje (23), em sessão extraordinária da Câmara Municipal de Mossoró, o vereador Nacizio Silva (PTN) conseguiu a aprovação do projeto de lei que proíbe a inclusão da ideologia de gênero no plano municipal de educação foi aprovado pela casa legislativa. A corrente de pensamento pressupõe que gênero e sexo sejam conceitos sinônimos. A matéria impede a prática de doutrinação ideológica de gênero em sala de aula, bem como a veiculação, em disciplina obrigatória de grade curricular do município, e de conteúdos que possam estar em conflitos com as convicções morais e religiosas dos estudantes ou de seus pais ou responsáveis.
Em 2014 na câmara dos deputados, uma comissão especial retirou a ideologia de gênero do Plano Nacional de Educação. Várias câmaras dos vereadores seguiram a tendência e excluíram do plano municipal, e Mossoró passa a integrar essa linha. “Estamos felizes pela aprovação do projeto e por ter atendido o pleito das famílias cristãs que se mobilizaram nas redes sociais, nas entidades, igrejas, e grupos, em favor dos valores cristãos e morais”, agradece Nacizio.
De acordo com o parlamentar, o projeto não é uma atitude discriminatória, mas segue o texto nacional aprovado no congresso nacional que prevê o combate a todo tipo de discriminação. A matéria reconhece a vulnerabilidade do estudante na relação do aprendizado, quanto aos direitos compreendidos em sua liberdade de consciência e de crença, e também dos pais, a que seus filhos menores recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções.
No uso das suas funções, o professor não abusará da inexperiência, da falta de conhecimento ou da imaturidade dos alunos com o objetivo de cooptá-los para a corrente ideológica de gênero. Caso algum evento para tratar do assunto, os responsáveis pelos menores devem ser avisados anteriormente.
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O blog tem pouco a dizer diante desse dia de lamentável retrocesso vivenciado pela Câmara Municipal de Mossoró:
1º O vereador não sabe distinguir: sexo, gênero, identidade de gênero e orientação sexual;
2º A Câmara está representando o que lhe convém, ou que convém ao que entendem por "moral e bons costumes";
3º A medida em nada vai ajudar, apenas deixar de amparar crianças que não se enquadram no padrão heteronormativo;
4º O vereador apenas provou o que já sabemos: o Estado não é laico, atende às exigências cristãs;
5º Não existe doutrinação de gênero, diferente da doutrinação (imposta) de religião.
Por fim, a Câmara Municipal de Mossoró não surpreendeu, apenas seguiu a tendência nacional e de diversas outras localidades: falta de competência, déficit de conhecimento sobre assuntos que tentam tratar e representatividade a desejar.

[Postagem do Dia] A indústria do preconceito

Vocês já se perguntaram quanto o preconceito rende para instituições que se promovem em cima do discurso de ódio? O que seria de figuras como Silas Malafaia, Bolsonaro e Marco Feliciano? De que se alimentariam esses personagens?

Eles são os rostos mais conhecidos quando tentamos juntar “religião” e “política”. Mas será que eles estão mesmo praticando alguma dessas atividades? Ou talvez estão sendo apenas símbolos do desejo seboso incrustado nos peitos preconceituosos dos brasileiros? E, de quebra, enricando com isso.

O preconceito virou uma verdadeira indústria, de fácil manutenção e extremamente lucrativa. Primeiro porque não há muita burocracia para se abrir uma vertente da “igreja evangélica”, recebendo apoio notório do Estado (nada) laico. Segundo porque basta uma sala e uma caixa de som, o resto do trabalho é realizado por um homem, com domínio da oralidade e conhecimento do livro sagrado. Basta apenas isso para que a palavra de Cristo seja distorcida aos quatros ventos, como forma de justificar as posturas preconceituosas.

Vocês já se perguntaram como um pequeno grupo de pessoas que começam apenas dessa forma em pouco tempo conseguem construir um “templo sagrado”?

A resposta é simples: os bons oradores falam exatamente o que seus fieis querem ouvir. Mas a palavra de Cristo nunca foi e nunca será aquilo que você quer ouvir, isso se chama manipulação. Exemplifiquemos:

Para condenar a prática homossexual se utilizam do Livro Levítico que diz “quando também um homem se deitar com outro homem, como uma mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles”, sem maiores interpretações dessa passagem, visto que cabe várias, desde o teor machista, até o desconhecimento da prática em si, passemos para mais dispositivos que hoje são praticados diariamente por todos, mas que não são lembrados:

- Não comer carne de porco (Levítico 11:07)

- Não comer alguns frutos do mar (Levítico 11:12)

- Não comer fruta da árvore com menos de 3 anos (Levítico 19:23)

- Não fazer cruzamento de raças de animais (Levítico 19:19)

- Não semear a terra mais do que sete anos (Levítico 25:04)

- Não usar vestimentas com fios diferentes (Levítico 19:19)

- Não cortar o cabelo (Levítico 19:27)

- Não raspar a barba (Levítico 19:27)

- Não fazer tatuagem (Levítico 19:28).

Imagine se todas essas práticas fossem (hoje, como era quando escritas) tidas como abominação, será que alguém escaparia?

O comprometimento com o texto sagrado é seletivo?

A resposta é simples: as pessoas não leem, não interpretam, não tiram sequer um minuto para pensar, são apenas fantoches da indústria do preconceito, em que se dá por satisfeitas em depositar os 10% do seu salário, na ilusão de que aquilo é a punição para os pecados que cometem diariamente. Ou apenas buscam nessas instituições "religiosas" a justificativa para a sua postura preconceituosa perante os seus iguais. No fim, o objetivo é o mesmo: juntar o útil ao agradável para alcançar a paz de espírito; enquanto, aqueles que sofrem com seu discurso, são mortos. 

Amém? Amém!

Ou, apenas, amem. Sem acento.


segunda-feira, 22 de junho de 2015

Os injustiçados - A censura à música brega na Ditadura Militar

Wando
Censura à música brega na ditadura militar: quando falamos em censura na música brasileira durante a ditadura, os primeiros nomes que nos vêm à cabeça são os de artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. No entanto, um outro grupo, igualmente importante para a cultura nacional, também fora extremamente perseguido, e não apenas pelo governo, mas também pela própria sociedade: os cantores de música brega. Por serem considerados como cantores do povão, de valor desprezado por muitos críticos e historiadores musicais, pouco se fala a respeito da censura política e social que esses artistas, verdadeiros cronistas do cotidiano amoroso, sofreram durante o regime.

Um apartheid musical

Paulo César de Araújo, autor da biografia censurada de Roberto Carlos, também é o autor da obra Eu Não Sou Cachorro Não, que fala justamente sobre a censura à música brega na ditadura militar, a perseguição que os cantores de música brega sofriam durante o regime. Segundo o historiador, “A memória construída sobre o período só valorizou a resistência dos cantores da MPB. No entanto, cantores como Odair José, Nelson Ned e Wando também foram proibidos, e isso se deveu não apenas a uma censura política, mas também a uma censura moral, visto que não se podia falar de cama, de pílula, de sexo”. E foi principalmente essa a censura que os cantores bregas sofreram.
Odair José
As músicas do radinho da empregada, como eram conhecidas as canções românticas, provocavam verdadeiras revoluções comportamentais via FM. Em plena década de 1970, quando questões como o divórcio ainda eram mal vistas, quem teria coragem para falar sobre o amor de um homem por uma prostituta? Quem falaria sobre a virgindade ou sobre o adultério? Eram os cantores populares que tocavam nesses tabus e, como conta Araújo, havia um apartheid na música brasileira: a canções consideradas cafonas eram para o povão, enquanto a MPB era consumida pela classe média.
A maior parte da produção dos cantores populares dizia respeito ao amor e à sexualidade. Eram, e ainda são, cronistas do amor, escrevendo, em forma de música, sobre os dilemas, os desejos, as aventuras e desventuras do que acontece entre quatro paredes e, principalmente, dentro do coração. No entanto, apesar de falarem sobre assuntos que faziam parte da vida de qualquer pessoa, a censura à música brega na ditadura militar foi barra pesada, principalmente para Odair José.
“Odair José foi um dos cantores mais censurados da música brasileira, e não apenas da música brega”. Como conta Araújo, o cantor gostava de tocar em temas tabus, porque sabia que a sociedade precisava discutir esses assuntos, que não adiantava fechar os olhos para questões que eram importantes.
Um dos episódios mais emblemáticos de censura ao cantor é o da música Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula). Na época, então no ano de 1973, o governo brasileiro desenvolvia uma campanha de natalidade, que estimulava o uso da pílula entre os mais pobres, pois -quanta ignorância!- o Estado acreditava que o nascimento de filhos de pessoas pobres era a causa da pobreza no país. A pílula era distribuída principalmente nas periferias da região Nordeste, e a iniciativa havia sido financiada pelo Banco Mundial. “Nesse contexto, auge da ditadura Médici, quando havia cartazes espalhados dizendo ‘Tome a Pílula Com Muito Amor’, surge uma música no rádio, de sucesso estrondoso, dizendo ‘Pare de Tomar a Pilula’. A canção de Odair José foi considerada como um ato de desobediência civil e foi proibida de ser executada nas rádios, mesmo depois de já ter sido lançada”, conta Araújo.
E não foi só o governo que se opôs à canção. Apesar de ser contra o uso da pílula, a Igreja achava que a música ajudava a divulgar o uso do anticoncepcional, e também a censurou. Grupos conservadores de classe média também se opuseram, pois consideravam que esse era um assunto que não deveria ser tratado de maneira tão explícita.
“Um outro caso emblemático, também com o Odair José, é o da canção Em Qualquer Lugar que dizia ‘Em qualquer lugar a gente se ama, dentro do meu carro, embaixo do chuveiro, no jardim’. Essa canção, mesmo tendo sido gravada, não conseguiu ser inserida no disco. Apesar de ser uma letra que não tem nada de mais, para a época aquilo era uma afronta, e a censura, inclusive, escreveu: ‘A música relata um casal fazendo sexo como dois animais’. Embora Odair tenha recorrido e modificado a letra, a canção foi inteiramente proibida”.
Mas os bregas também falavam de política e, obviamente, também tinham que driblar a censura para isso. Luiz Ayrão, em 1977, lançou a canção O divórcio, que, de maneira muito inteligente, usava a metáfora da separação amorosa para falar sobre a insatisfação com o regime imposto em 1964: “Treze anos eu te aturo/ Eu não aguento mais/ Não há Cristo que suporte/ Eu não suporto mais”.

Senhora dos absurdos

A ditadura foi capaz de censuras que não tinham o menor fundamento. Waldick Soriano, cantor de boleros românticos, teve a música Tortura de amor censurada apenas por incluir a palavra “Tortura”, sendo que a letra não tinha nenhum conteúdo político, mas apenas amoroso: “Hoje que a noite está calma/ E que minh’alma esperava por ti/Apareceste afinal/Torturando este ser que te adora”. Eram tempos de rigidez, mas não se pode cometer a injustiça de imaginar que a música brega não foi atingida. Um dos gêneros musicais mais importantes do país foi censurado sim, e isso dura até os dias de hoje. Afinal, a ditadura pode ter passado, mas grande parte da sociedade ainda torce o nariz para as letras populares, para a arte de cantores cujo grande pecado é falar sem pudores sobre amor.