segunda-feira, 13 de julho de 2015

"Lésbica": Quem Criamos esse Nome?

Eu fico triste porque tínhamos um nome e parece que logo não teremos mais. Nós mesmas escolhemos esse nome para nos dar - "Lésbicas" veio das teorias lesbicas, corajosamente independentes das mulheres heterossexuais e do heterofeminismo, e independente também dos homens gays. Nossas teorias foram criadas por meio de uma dura quebra de silêncio, quando uma certa categoria do sexo feminino, com vivência social comum, se reuniu e se reconheceu, decidindo ousar criar um nome próprio. O movimento lésbico autônomo investigou em detalhes as características específicas da opressão vivida pela categoria. O nome "lésbica" veio da luta solitária e estrondosa dessa categoria, delas e de mais ninguém.

Foi então que teorias externas à nossa, criadas por homens gays, pegaram nosso nome e disseram que nao cabe mais a nós decidir o significado do nome que nós mesmas nos demos. "Lésbica" se referia ao sentido político que a sociedade enxergava nas práticas lésbicas, e no sentido político que nós mesmas vimos no amor lésbico: resistência. Tais características eram comuns a todas nós: recusa do falocentrismo, recusa do machocentrismo, amor a uma outra coisa, amor e carinho pelos nossos corpos. O feminismo heterossexual nunca tentou esconder seu ódio a lésbicas e preferência por homens gays (a pauta é sempre homofobia, nunca lesbofobia; chamam homens gays a falar em vez de sapatonas). Assim, não surpreende que elas tenham preferido adotar teorias gays a teorias lesbicas. De repente feministas heterossexuais e movimento de homens gays começaram a pressionar as lésbicas que militavam no heterofeminismo e no lgbt a recusar sua história, a recusar nossas teorias, a recusar nossas vivências, nossas próprias memórias.

E, pressionadas por meio de força psicológica e frequentemente física, os movimentos não-exclusivamente-lesbicos fizeram lésbicas desistirem de outras lésbicas, desistirem da confiança no que sentiam desde adolescentes e, com isso, elas passam a brigar com outras sapatonas - as que não abrissem mão de suas próprias memórias. Os movimentos macho-identificados trataram de esconder a memória do movimento lésbico, traduzindo e tornando conhecidas as teorias europeias masculinas, mas nunca as teorias lésbicas. Agora que já não podem mais esconder, tratam de demonizar nossas teorias. Lésbicas que não trabalham para o falocentrismo não têm valor. Lésbicas que lutam por lésbicas e portanto contra o falocentrismo não têm valor social. Ou melhor, têm sim, mas é um valor revolucionário que precisa ser contido, roubado, esvaziado de sentido e finalmente estuprado. 

Aquelas que estão contra o falocentrismo estão perdendo o nome porque os movimentos não-exclusivamente lesbicos transformaram o nome que inventamos em outra coisa: não temos mais direito a ele, não temos direito a nome. Poderíamos criar um novo, para nossa especificidade? Mas o nome que inventamos já era específico, bem definido, e mesmo assim a definição que demos foi apenas amassada e jogada na lixeira, e nossa própria criação nos foi roubada. Não tem sentido pensar que aconteceria diferente, se criássemos um nome novo. 

É egoísmo nos nomearmos: pior, é perigoso para o falocentrismo e para todos os colaboradores e colaboradoras dele. Nós temos direito ao nosso nome, direito de defender o significado dele, tomarmos as rédeas de dizer o que é parte da nossa opressão e o que não é, o que é lesbiandade e o que não é. Também temos direito de visibilizarmos o que amamos, em vez de precisarmos novamente sussurrar isso, envergonhadas de nós mesmas, entre sapas - enquanto gritamos junto do heterofeminismo e do LGBT o que eles nos forçam a gritar. Ser lésbica sempre foi um lugar social, muito antes de se tornar uma identidade, e virou identidade somente como esforço NOSSO, de fortalecer nossa sobrevivência nesse lugar onde estupro corretivo é a lei.

Mas mesmo que roubem esse nome, e o próximo, e nos expulsem de todos os nomes que usarmos, mesmo sem nome ainda teremos um lugar social dedicado apenas e exclusivamente a nós. Um lugar ao qual ninguém passa a ter acesso por conta de um nome, e ninguém deixa de fazer parte apenas mudando nomes ou inventando teorias. Ceder meu nome não cede o lugar social que nos foi imposto e só a nós. Esse lugar me foi imposto pela sociedade patriarcal e falocêntrica devido à minha recusa, porque fui treinada desde cedo para engravidar (e engravidar tem que ser "à moda antiga", "do jeito tradicional"), e neguei tudo isso. Parem com a política das palavras, vamos fazer política na materialidade: uma política de e para lésbicas, sem a invasão de movimentos falocêntricos.



Precisamos saber o que a história das nossas próprias teorias têm a dizer sobre nós, sobre o que sofremos, sobre como podemos militar, quais as dificuldades. Antes de ler qualquer coisa, lésbicas precisam ler lésbicas que escrevem para lésbicas.

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[Postagem do Dia] Sense8 é bem mais do que diz a descrição



Fazia tempo que eu não assistia algo que me instigasse a escrever e indicar. Se não me engano a última foi o filme “Her”. E, apesar de alguns acharem que “Orange Is The New Black” poderia se encaixar, discordo totalmente. Mas isso é assunto para nova postagem. Hoje, a série que merece atenção e todos os aplausos é a “Sense8”, ressaltando que essa postagem não tem como foco explicar o enredo da série, apenas alguns pontos que merecem destaque e que dão fulcro a trama.

Diante da larga produção de entretenimento de baixa qualidade que tem como objetivo atrair o maior número de telespectadores, a série original da Netflix, sense8, se destaca. Não é exagero dizer que ela é uma série com elevada sobrecarga de militância, seja a militância do amor, do respeito ou da diversidade, como queira chamar.

É uma trama, de início, complicada de ser compreendida, não há como negar. Por vezes, dá um nó na cabeça tentar entender como funciona o desenrolar da história. Mas isso é resultado do mercado superficial de filmes e séries. Sense8 não se trata apenas do que o nosso discernimento diz no início, ela vai além, e quando compreendemos isso, compreendemos o enredo. A série não é sobre um fato impossível (até então ou o que o nosso conhecimento sobre biogenética permite) de existir que é a anomalia genética que liga oito pessoas. Mas sim, sobre a ligação psico-sentimental que estabelecemos diariamente.

A série mostra que vivemos numa superficialidade sentimental constantemente, que estabelecemos elos vazios, motivados por motivos alheios do que realmente deveria ser. E o fato de ter oito pessoas ~ obrigatoriamente ~ ligadas entre si há um apelo maior e consegue enfatizar como se dá uma ligação pura entre duas ou mais pessoas. Deste modo, pontos como companheirismo, compreensão, doação, profundidade nas relações pessoais, entrega etc., são fundamentos chaves para a construção do relacionamento entre esses sujeitos.

Além disso, outro ponto que me chamou atenção na série foi o discurso sem vícios de preconceito. O discurso falado ou demonstrativo, subjetivo. Por exemplo: na série existe um casal composto por duas lésbicas, uma delas é transexual. Onde podemos ver esse tipo de coisa? Isso é um assunto silenciado na nossa sociedade.


A série é cheia de munição, não daquela que propaga ódio. Mas sim, daquela que combate a opressão, o des(amor). Vale a pena. Muito a pena. Fica a indicação.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Redução da maioridade penal por causa de estupros? Balela

Esse povo não está nem aí para “mulheres estupradas”. Alguém acha que Bolsonaro, que desejou que uma mulher fosse estuprada, se importa com isso?


Para a galera conservadora, estupro era culpa da mulher que “provocou”, “andou sozinha na rua à noite” ou “bebeu”. Até eles resolverem usar o estupro no tom “e se fosse sua filha estuprada por um menor? E se fosse sua mulher?”.
Me dá vontade de morrer esse argumento. Sequer é um argumento.
Existem menores estupradores? Existem. Eu mesma fui vítima de três deles e achei que fosse culpada do que aconteceu durante boa parte da minha vida. Se eu acho que a redução da maioridade penal teria me trazido justiça? Não acho. Aqueles moleques brancos e de classe média seriam vistos como jovens que cometeram “um erro”. Essa medida, se aprovada, vai se voltar contra a população de baixa renda. Contra preto. Contra pobre. Os menores com grana que cometerem crimes vão continuar se safando, assim como boa parte dos adultos com grana.
Esse povo não está nem aí para “mulheres estupradas”. Alguém acha que Bolsonaro, que desejou que uma mulher fosse estuprada, se importa com isso? Bolsonaro, aquele que diz que tem que TIRAR criança da escola e colocar na cadeia?
Óbvio que não. É apenas um argumento fácil para ser a favor da redução. Essa Câmara não está nem aí pra mulher alguma, diga-se de passagem. E não custa lembrar que 70% dos estupros acontecem em casa e são cometidos por conhecidos ou familiares.
Como escreveu a Mari, minha colega de blog"Os caras querem colocar a maioridade penal nas nossas costas, falando que ´evita estupros´, mas vale lembrar que na hora de defender os direitos mais básicos e reais das mulheres eles seguem não fazendo nada. 
Ainda sobre estupro: cerca de 7% dos estupros no País resultaram em gravidez, mas 67,4% das vítimas não tiveram acesso ao aborto legal na rede pública, conforme previsto em lei."
Eu já tive que acompanhar uma mulher violentada até o Pérola Byington, hospital em São Paulo que deveria ser referência em atendimento a mulheres que passaram por violência sexual, e é claro que não é fácil como imaginam. As pessoas acham que é só chegar e falar “olá, fui estuprada e gostaria de fazer um aborto”. Já sabemos que as Delegacias da Mulher não são ambientes nada acolhedores e o hospital, que deveria cuidar da mulher vítima de violência, também não é.
O aborto em caso de gravidez resultante de estupro, previsto em lei, é dificultado em todas as etapas do atendimento.
Então não venham nos usar de argumento nesse Congresso imundo dizendo que querem a redução da maioridade penal porque estão preocupados com as mulheres e os menores estupradores.
Não coloquem mais isso nas nossas costas.
Os menores infratores já são responsabilizados, e o índice de reincidência no sistema socioeducativo é menor; no Brasil, os adolescentes são mais vítimas do que autores de crimes; o sistema prisional já está superlotado, com quase metade dos presos aguardando julgamento (lotar ainda mais é uma ótima desculpa para privatizar as cadeias). Não é reduzir a maioridade penal que vai resolver nossos problemas.
Quer mais razões? Tem aqui.
E quem acredita que o Congresso está representando os interesses do povo porque “é o que a maioria quer e isso é democracia”, fique sabendo que a maioria, além de ser a favor da redução da maioridade penal é também contra o casamento gay, contra a legalização do aborto, contra a existência de pessoas trans (o que dizer então de cirurgia de transgenitalização), contra cotas para negros na faculdade e, se bobear, a favor da pena de morte. É isso que você acha certo?

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quarta-feira, 8 de julho de 2015

ESTUDO: Violência contra a mulher foi o 2º crime mais atendido pelo MP

Mais de 300 mil inquéritos policiais envolvendo violência doméstica contra a mulher foram movimentados pelo Ministério Público (ESTUDO)



Passados quase 10 anos da vigência da Lei Maria da Penha, a violência doméstica contra a mulher no Brasil ainda é um problema grave. É o que mostra recente levantamento do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)divulgado no último dia 23 de junho pela entidade.
De acordo com o relatório, 306.653 inquéritos policiais relacionados à violência doméstica contra a mulher foram movimentados pelo Ministério Público de todo o País no ano passado. Desse total, 283.655 viraram processos criminais.
Em quatro das cinco regiões do País – Nordeste, Centro-Oeste, Norte e Sul –, foi o segundo crime entre os inquéritos que chegaram aos promotores – atrás apenas dos crimes contra o patrimônio. Apenas os três Estados do Sul brasileiro – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – respondem por 79.768 inquéritos do assunto.
Apesar dos dados, os números definitivos sobre a violência doméstica contra o Brasil ainda necessitam de maior refinamento, conforme apontou um levantamento doInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Em março deste ano, o estudo ‘Avaliando a efetividade da Lei Maria da Penha’ – citou que 1,3 milhão de mulheres foram vítimas de violência doméstica no Brasil em 2009, e 43% das brasileiras já alegaram ter sido vítimas de algum tipo de violência durante a vida, seja ela verbal ou física. Das agressões que acabaram em morte da mulher, 90% dos autores eram conhecidos pela vítima, o que comprova o que o material chamada de “cultura do patriarcado e sua expressão machista”.
Em outro relatório do Ipea, divulgado na mesma oportunidade, foi constatado que 48% das mulheres agredidas tinham sido vítimas dentro de suas próprias casas, e que o número de assassinatos de mulheres ficou estável a partir de 2006, após a implementação da Lei Maria da Penha, enquanto os homicídios de homens no País subiu nos anos seguintes.

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[Postagem do Dia] O povo brasileiro sabe o que é machismo?

O movimento feminista no Brasil está passando por um período extremamente crucial. Por alguns motivos:

Antes de tudo, existe um grande estigma acerca da temática. Exemplos: toda feminista é sapatão, mal amada ou frígida. Feministas são anti-higiênicas, pois não tiram seus pelos. São máximas equivocadas, mas que, por muito tempo, foram propagadas como verdades absolutas, assim como todas as construções discursivas que tem como finalidade desvirtuar o real objetivo do que se fala. Todavia, atualmente, o movimento feminista está sim conseguindo desconstruir esse discurso.

Diante disso, algumas coisas podem ser observadas: a maior participação da figura masculina na defesa da luta feminista; maior propagação do que é feminismo; maior conhecimento da população da importância do feminismo para a sociedade.

Por fim, nota-se que, apesar de não ser o ideal, o feminismo está conseguindo entrar na casa do/a brasileiro/a, seja de forma receptiva ou não. E, acima de tudo, explicando-nos, dia após dia, o que é o machismo e como é cruel a sua materialização.

Ainda assim, nós mulheres, somos vítimas diárias de comportamentos machistas, que vão de pequenas proporções (cantadas insistentes e invasivas) até aqueles que podem destruir a vida de alguém (buscar culpa na própria mulher por ela ter sido estuprada).

É nesse contexto que nas últimas semanas me deparei com essa imagem:



E me perguntei: será que isso aconteceria se fosse um homem?

E me abismei: várias mulheres na minha rede social estavam compartilhando.

A ofensa vai muito além da figura da presidentA, ela não foi a única ofendida e pouquíssimas pessoas se deram conta disso. Essa imagem não deveria existir, mas enquanto existe deveria ficar na cabeça de todos/as até que consigamos, finalmente, compreender o quanto ela é ofensiva, o quanto ela atinge a mulher, a dignidade, a existência feminina. O quanto ela rebaixa. O quanto ela denigre. E o quanto ela é machista.

“Mas, a intenção foi atingir o Governo Dilma”

Não, não foi. Coloquem isso na cabeça.


Para dizer que um Governo ou um/a governante é ruim, isso não se faz ofendendo a sua dignidade, mas sim a sua gestão. Essa foi uma ofensa à pessoa, à dignidade e, acima de tudo, à nós – mulheres.

Antes de criticar saiba: é esse o maior combate do feminismo.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Moçambique descriminaliza homossexualidade e aborto


O Moçambique descriminalizou a homossexualidade, ao aprovar reformas a um código de leis que datava de 1886, época que o país - independente desde 1975 - ainda era uma colônia portuguesa.
De acordo com o site Pink News a homossexualidade podia ser punida no país com três anos de trabalhos forçados, internação em uma instituição psiquiátrica ou afastamento das atividades profissionais.
lei que estava em vigor até esta segunda, previa nos artigos 70 e 71, pena "aos que se entreguem habitualmente à prática de vícios contra a natureza". Com a medida, o Moçambique se torna a 21ª nação africana a legalizar as relações entre pessoas do mesmo sexo, segundo o International Business Times.
Segundo a publicação espanhola El Mundo, tais penas não eram aplicadas desde 1975. O novo código penal, que entra em vigor nesta segunda-feira (29), foi articulado pelo presidente Armando Guebuza, que deixou o poder no começo deste ano.
Relações homossexuais ainda podem ser punidas com a morte em países como o Sudão e a Mauritânia.
O novo código penal, que entrou em vigor sem nenhuma cerimônia para marcar a data, também inclui um artigo para legalizar o aborto, segundo o El Mundo.
A principal organização LGBT do país, a Lambda, que teve papel fundamental na aprovação da lei, foi cautelosamente otimista sobre o processo, mas afirma que a aprovação da lei é um importante passo para uma sociedade mais igualitária.