quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Uma em cada 3 pessoas no país ainda acha que vítima é culpada por estupro, aponta pesquisa



Da Agência Estado

Mais de um terço da população brasileira atribui à vítima a culpa por ter sofrido estupro. Pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que será divulgada nesta quarta-feira, 21, mostra que 37% concordam com a frase “mulheres que se dão ao respeito não são estupradas”, porcentual que chega a 42% entre os homens, e 30% acreditam que a “mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada”.

A pesquisa, feita pelo Instituto Datafolha com 3.625 pessoas em 217 cidades de todas as regiões do País entre 1 e 5 de agosto, traz ainda outros dados considerados preocupantes por especialistas: 65% da população diz sentir medo de ser vítima de violência sexual, número que é de 90% entre as mulheres do Nordeste. O receio é maior entre os mais jovens, onde o porcentual médio é de 75%, decrescendo conforme aumenta a faixa etária.

A opinião surge em um ano em que se discutiu a chamada “cultura do estupro”, a partir do caso de um ataque coletivo contra uma adolescente no fim de maio no Rio. O resultado também contrasta com a celebração de dez anos de vigência da Lei Maria da Penha, considerada a mais relevante na luta contra a violência doméstica.

Para os pesquisadores que coordenaram o trabalho, “é bastante comum que o comportamento de quem foi vítima seja questionado com base no que se entende serem as formas corretas de ‘ser mulher’ e ‘ser homem’ no mundo”. “Este pensamento vem de um discurso socialmente construído, que considera que se a mulher é vítima de alguma agressão sexual é porque de alguma forma provocou esta situação, seja por usar roupas curtas ou andar sozinha na rua em certos locais considerados inapropriados. Com isso, há ainda a ideia do homem que não consegue controlar seus ‘instintos naturais’”, aponta a análise dos pesquisadores.

Os resultados mostram que pessoas mais novas, com menos de 60 anos, tendem a não culpar as vítimas. A pesquisa aponta que 44% dos brasileiros com 60 anos ou mais acreditam que uma mulher que use roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada. Por outro lado, a afirmação é considerada verdade por 23% dos ouvidos com idade entre 16 e 34 anos.

O nível de escolaridade é visto como um diferencial. Enquanto 47% das pessoas que cursaram o ensino fundamental acreditam que são estupradas mulheres que não se dão ao respeito, 19% daqueles que cursaram o ensino superior têm a mesma visão.

Questionados se é necessário ensinar na escola meninos a não estuprar, 91% dos entrevistados responderam que sim. Os responsáveis pela pesquisa encararam a resposta como importante para notar que a educação sobre igualdade tem potencial para “alterar a cultura machista que perpetua a violência contra a mulher”. A concordância sobre esse tipo de ensino foi confirmada em todas as faixas etárias, níveis de escolaridade e tamanho dos municípios.

FONTE DEFATO.COM

ARTIGO: O que há de tão perigoso?

Mas o que há, enfim, de tão perigoso no fato de as pessoas falarem e de seus discursos proliferarem indefinidamente? Onde, afinal, está o perigo?, assim falou Michel Foucault no Collège de France, em 1970, que deu origem ao livro “A ordem do discurso”. Proferida há quase cinco décadas; todavia, atemporal.

O ato de discursar, seja através das palavras, gestos, imagens ou até pelo próprio silêncio, é uma atividade inerente ao “estar vivo”. Ao nascer, discursar é a primeira coisa que fazemos: choramos. E se não choramos, somos forçados a isso.

Cotidianamente, empregamos os nossos corpos e mentes na realização de infinitos discursos, desde aqueles que têm como escopo o atendimento de necessidades básicas até os que visam à irrupção de opiniões.

O discurso é também uma forma de exercer/defender o poder; para tanto, munindo-se das mais diversas artimanhas: popularidade, inverdades fantasiosas, recursos gráficos, aparato financeiro etc. “[…] o que está em jogo senão o desejo e o poder?”, disse Foucault.

Será, por esse motivo, tão perigoso o discurso? Em tempos como esses, de campanha eleitoral – digo, em que os mais diversos discursos tomam formas, os sujeitos inseridos acabam utilizando variados mecanismos de comunicação para defender o que é seu: a sua opinião e ‘opiniões’.

Todavia, aquele que fala, especialmente o que tem o poder da fala (ou do discurso) em relação a um grande número de pessoas, possui também o dever com a verdade, a obrigação da honestidade com aquele que lê e escuta. A verdade não pode, nesse caso, atender ao “desejo” daquilo que se quer ter como verdadeiro, mas à realidade. É, nesse ponto, que esbarramos com a dualidade existente dentro da liberdade de expressão: verdade versus mentira.

Até onde a defesa de uma opinião não ultrapassa os limites, rompendo com a verdade? Até onde se pode utilizar de princípios constitucionais distorcidos para a defesa da manutenção de um poder? Até onde se pode falar? O que se pode falar?

Essas questões deveriam ser pauta obrigatória para aqueles que se debruçam nas teclas de um objeto de comunicação e proferem discursos violadores da boa-fé. Pois, esquecem que todo direito dado pelo ordenamento jurídico vem conjugado com um dever.

E o dever é a responsabilidade de falar o fato real, exatamente como ele é. A consciência, nesse caso, não deve atingir apenas a moral individual, de estar traindo a si próprio, mas, sim, coletiva; pois os discursos, como enfatiza Foucault, se proliferam indefinidamente e sujeitam pessoas, lares e opiniões. 
Vale lembrar, como disse o multidisciplinar: “É sempre possível dizer o verdadeiro no espaço de uma exterioridade selvagem”.

(Brena Santos – Advogada)

Coluna do dia – 18 de setembro de 2016

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Documentário aborda empoderamento da mulher sertaneja pelo Bolsa Família

BeFunky Collage

Idealizado por três jovens jornalistas, o documentário Libertar – Relatos de Guaribanas do Bolsa Família,  conta a história de 5 mulheres da cidade de Guaribas, no Piauí, que no início dos anos 2000 apresentava um dos menores índices de IDH do Brasil e que, em 2003, deu início ao programa de distribuição de renda.

Em um filme de cerca de 25 minutos, as beneficiárias do Bolsa Família esclarecem a necessidade e as melhorias que a iniciativa proporcionou para suas vidas e de suas famílias, garantindo mínimas condições de alimentação e estrutura financeira para os estudos de seus filhos. Por meio de relatos intimistas, as mulheres retratam as mudanças que o programa trouxe para elas, que agora, com uma quantia mensal, podem alcançar uma estrutura básica e, enfim, começar a sonhar com uma herança para seus filhos: o estudo. 

“Eles têm muitas coisas que eu não tive. Na verdade… tudo.  Naquele tempo a gente não tinha nem roupa nem comida para comer.  Hoje eles trabalham na roça e estudam. Naquele tempo era só trabalho, trabalho, trabalho… escravidão. Hoje eles tem uma roupa para usar, roupa boa, comida boa, calçado bom, perfume bom… eu não tive nada disso”, conta Francisca, uma das personagens do filme.

A cidade que fica a 648 km de Teresina e tem 4478 habitantes já chegou a ficar três anos sem chuva. Além disso, informações fornecidas pelo Ministério do Trabalho mostram que, até janeiro deste ano, a economia local girava em torno de 18 empregos formais.

Capa

O documentário expõe, ainda, que a figura feminina ocupa um papel fundamental no programa Bolsa Família. É delas a tarefa de sacar todos os meses o dinheiro depositado pelo Governo Federal. No ano de 2013, as mulheres preenchiam a fatia de 93% do total de titulares do cartão do programa.

De acordo com pesquisas realizadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social, o repasse feito em nome da mulher garante maior autonomia e liberdade às mulheres, que passam a ter poder de escolha e independência econômica dentro de seus lares. 

“Disso você pode ter certeza: uma mulher sabe mais a necessidade. Porque ela se preocupa mais com a alimentação, com os filhos, vestimenta, calçado, se for o caso (…) Homem não, se ele pegar e for cachaceiro ele já vai para o bar beber com o próprio dinheiro do Bolsa Família. Se for um jogador, como eu conheço muitos,  já pega o dinheiro e vai apostar, vai jogar. Uma mulher nunca vai fazer isso. Uma mãe nunca vai deixar de dar um alimento para seu filho, é preferível ela não comer do que não dar ao filho.  Um homem não pensa assim“, afirma Elionete, ex-beneficiária do programa e uma das entrevistadas do documentário. 

Nomes dos realizadores: Catharina Obeid, Manuela Rached e Renato Bonfim

Assista ao documentário:



segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Ditadores podem doar sangue, homossexuais não, diz campanha

Campanha contra lei que impede homossexuais de doar sangue no Brasil

Do AdNews

Um exemplo declarado de preconceito no Brasil é a lei que proíbe homossexuais de doarem sangue. Mesmo com dados que evidenciam o baixo número de doações, o Ministério da Saúde mantém a Portaria 2712, que restringe homens que poderiam ser potenciais doadores apenas por que mantiveram relações com outros homens no período de 1 ano, mesmo que estas pessoas tenham feito sexo de forma segura com o seu parceiro.

No primeiro semestre deste ano, uma campanha da All Out, movimento global de defesa dos direitos LGBT, chamou a atenção para os cerca de 18 milhões de litros de sangue que o Brasil desperdiça ao ano por puro preconceito.

Agora, a ONG Bandeiras Brancas, movimento que cria ações de comunicação em prol da paz, também denuncia o parágrafo considerado preconceituoso da Portaria do Ministério da Saúde em busca de criminalizar os hemocentros que não aceitarem o sangue de homossexuais que sempre mantiveram relações seguras.

Para que o projeto alcance 20 mil assinaturas e possa ser encaminhado à Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, foi criado um vídeo de impacto, mostrando que de acordo com tal parágrafo, o comportamento agressivo de diversos ditadores se enquadraria para doação de sangue, enquanto o dos homossexuais, por puro preconceito, não.

O Brasil desperdiça cerca 18 milhões de litros de sangue ao ano por preconceito. Em 2014, apenas 1,8% da população brasileira doou 3,7 milhões de bolsas. O ideal da ONU é que 3 a 5% da população de um país seja doadora.

“Esta medida do Ministério é totalmente preconceituosa, já que com exames mais avançados, é possível diagnosticar um sangue saudável em 10 dias”, afirma Álvaro Carvalho, co-criador da campanha.

“Em nosso vídeo, queremos causar o impacto necessário para que os usuários acessem o site do Senado com nossa proposta e apoie. Não interessa se a pessoa é boa, má, corrupta ou não. Só teremos um primeiro passo caso consigamos os 20 mil apoios”, completa Carvalho.

Casais homoafetivos já são 10% dos adotantes em Natal

Por Redação

Nas estatísticas, eles integram 10% dos casais adotantes de crianças e adolescentes em Natal. E nos últimos anos, os números tem aumentado. Em oito anos, os casais homoafetivos fizeram a adoção de 16 crianças e adolescentes na capital potiguar. O perfil dessas pessoas mostra que têm em sua formação o ensino superior completo e pós-graduação, figurando na faixa da classe média. Os dados são da 2ª Vara da Infância e Juventude de Natal.

Os anos de 2014 e 2015 registraram a maior quantidade, quatro adoções cada um. Atualmente, no cadastro de pretendentes há sete casais homoafetivos aguardando a oportunidade de adotar uma criança ou adolescente, na maior cidade do Rio Grande do Norte. Esses casais têm oferecido uma oportunidade maior para crianças e adolescentes com mais dificuldade para serem adotados, aqueles com idades acima dos 3 anos, portadores de deficiência e grupos de irmãos.

O secretário executivo da Coordenadoria da Infância e Juventude do Judiciário norte-rio-grandense (CEIJRN), João Francisco de Souza, observa que as equipes técnicas das unidades de acolhimento institucional devem consultar a criança, com discernimento para decidir, sobre o seu desejo a respeito de querer ou não viver nesta modalidade de família, ou em outros arranjos familiares, com as famílias monoparentais.

“A consulta a criança que possua discernimento atende ao que está previsto nos artigos 45 e 168 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e vale para casais mais velhos ou pessoas solteiras que desejam adotar, respeitando-se a vontade da criança”, explica o secretário da CEIJRN.

Discernimento envolve a capacidade de compreensão e percepção que a criança possui dos mais diversos tipos de arranjos familiares, geralmente baseados em vivências anteriores. Situações comuns são aquelas nas quais a criança vivia em companhia apenas da mãe, ou se o genitor era um indivíduo que representava algum tipo de violência, ela tende a preferir a figura materna. E assim, ela expressa seu desejo naturalmente.

A união homoafetiva foi reconhecida em decisão abstrata do Supremo Tribunal Federal em 2012, ou seja sem analisar caso concreto, destacando “a união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como sinônimo perfeito de família”. A primeira adoção deste tipo no Brasil ocorreu em 2005, na cidade de Catanduvas (SP).

FONTE PORTAL NOAR

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Geledés - O dia seguinte ao fim da escravidão

Imagine um amigo seu ou um parente que fosse tratado como um animal. Imagine as pessoas que você ama vivendo sem ter nenhum direito, podendo ser vendidos, trocados, castigados, mutilados ou mesmo mortos sem que ninguém ou nenhuma instituição pudesse intervir em seu favor.



Por Douglas Belchior Do Negro Belchior 

Imagine você, seu pai, sua mãe ou seu filho sendo tratados como coisa qualquer, como um porco, um cavalo, ou um cachorro. Imagine sua filha sendo levada ou mesmo ao seu lado, estuprada, todos os dias e depois, grávida à serventia do negócio de seu dono.

Clóvis Moura (Moura, 1989, p.15-16), faz o relato sem personagens. Eu os incluí para pedir que imagine.

Você que já chorou diante das cenas que remetem o sofrimento de Jesus Cristo, na sexta feira da paixão; Você que fechou os olhos frente às fortes imagens de Django Livre; Você que se emocionou com 12 anos de escravidão, imagine.

Imagine – e saiba – que teu país e as riquezas que o conformam existem em função de quatro séculos de escravidão. E de tudo que deste período e deste sistema decorreu a partir de então.

Mas enfim, a escravidão acabou: 13 de maio, princesa Isabel e muita festa! Festa e promessa de abonança, tal qual desrespeitosamente a golpista Rede Globo nos educa, quase sempre com muita graça, como nos episódios clássicos do “Baú do Fantástico” e do “Tá no ar!“.

E no dia seguinte, tudo seria diferente.

Desde que acompanho o movimento negro, aprendi que dia 14 de maio, o dia seguinte ao fim da escravidão, foi o dia mais longo da história. Aliás, dizem outros, é o dia que não terminou.

Depois de séculos de sequestros, escravidão e assassinatos, o que se viu nos anos pós-abolição foi a formação e o desenvolvimento de um país que negou e ainda nega à população negra condições mínimas de integração e participação na riqueza.

Sem terra, sem empregos, sem educação, sem saúde, sem teto, sem representação. Sequer a mais liberal das reformas, a agrária, fora possível no país das capitanias hereditárias. Vamos olhar para o campo e observar as fileiras ou os acampamentos de Sem Terra, maioria negras e negros. Vamos buscar na memória os rostos de quem conforma o pelotão que estremece as metrópoles na justa luta por moradia capitaneada pelos movimentos de Sem-Teto nos dias de hoje: negras e negros! Bora olhar para as filas dos hospitais, para os que esperam exames e tratamentos, para os analfabetos ou para as crianças em idade escolar que estão fora da escola. Vamos olhar para a população carcerária e suas condições de existência. Vamos olhar para as vítimas de violência policial, para os números de desaparecimentos e homicídios. Vamos olhar para os dependentes do bolsa-família ou da previdência social. Vamos olhar para a pobreza. De fato, ela atinge a todos. Mas a presença de negras e negros nas condições narradas aqui, tem sido desproporcional e pouco se alterou desde 1888. 

O dia seguinte, a década seguinte, os 128 anos seguintes ao fim da escravidão não foram suficientes para nos livrar de uma herança racista, reafirmada cotidianamente pelos descendentes dos colonizadores que sempre dirigiram o Brasil. Estes mantém a posse do latifúndio, hoje rebatizado agronegócio. Mantém o domínio dos grandes meios de comunicação, são donos das grandes empresas, bancos, conglomerados educacionais-empresariais, além de dirigir politicamente as maiores Igrejas. Com isso garantem o poderio econômico a supremacia política e a representação eleitoral de maneira a manter intocáveis seus interesses.

Nada diferente do que tem sido os últimos 128 anos. Ou os últimos 516…

E nesse dia seguinte ao 13 de maio, neste dia depois do “fim da escravidão”, resistimos! E em saraus, cursinhos comunitários, coletivos negros, nas rodas de samba e candomblé, nos bondes funkeiros, no hip-hop, na poesia, na literatura, nas artes, na internet, no movimento negro, e aos pouquinhos, nas universidades, existimos.

E sendo assim, dotados de tamanha resiliência, imaginem a revolta! - Leia a matéria completa em: http://scl.io/EhxjP-be#gs.null

Primeiro disco de Liniker "Remonta" acaba de sair

Gabriel Quintão/Divulgação
Na primeira audição do disco Remonta, Liniker não poupa sorrisos. “É como uma criança vindo ao mundo, tô trabalhando nessas composições desde os meus 16 anos”, diz aos presentes com um misto de alegria e nervosismo. Ela, que completou 21 há dois meses, conta que queria muito uma obra à altura do que o grupo sonhou e também da expectativa do público. O álbum foi lançado para o público nesta sexta e já está disponível em diversas plataformas (Spotify, Deezer, Google Play, Apple Music, entre outras). Logo mais chega o CD físico — e ainda há previsão de vinil para o fim do ano.

Rafael Barone, diretor musical e baixista, é um dos que agradecem às pessoas que apoiaram o financiamento coletivo de Remonta. A arrecadação, feita entre junho e julho, passou de R$ 104 mil — a meta era R$ 70 mil. O EP Cru, ele lembra, foi feito com R$ 200.

Lançado em outubro de 2015, Cru tem três canções e catapultou o trabalho de Liniker e Os Caramelows para um grande público. O negócio estourou pra valer. As três também estão em Remonta, mas Barone me conta que foi unânime a decisão de repaginá-las. Por exemplo, a mais dançante do EP, “Louise du Brésil”, ganhou o sax inconfundível de Thiago França.

As demais canções, que já vinham sendo apresentadas nos shows do grupo, também foram remontadas em arranjo e espírito. Prova disso é a extensa lista de convidados: Tássia Reis, Xênia França, Tulipa Ruiz, Assucena Assucena e Raquel Virgínia (ambas da banda As Bahias e a Cozinha Mineira), Aeromoças e Tenistas Russas, e parte do Bixiga 70 (Daniel Gralha, Daniel Nogueira e Cuca Ferreira).

O guitarrista William Zaharanszki aparenta entusiasmo após o público ter escutado as 13 faixas. Conheceu o pessoal da banda por acaso, antes de Cru, quando rumava por uma carreira na área do Direito. Aí abraçou a música. Ele me diz que a gravação do álbum foi rápida, coisa de uma semana, e que o grupo deixou de lado outras partes da vida para mergulhar de cabeça no projeto.

A primeira faixa é uma introdução instrumental. A voz de Liniker só aparece na música seguinte, e é à capela. Logo aí quem tá ouvindo percebe o som “classudo” que está por vir, como Barone gosta de definir a cara de Remonta.

Veja o papo que a Bravo! teve com Liniker:

Dá pra dizer que desde o lançamento de Cru, no fim do ano passado, a vida de vocês mudou totalmente. Você já parou pra pensar em tudo que aconteceu de um ano pra cá? Você pira nisso às vezes?

Eu acho que já era um processo em que tava todo mundo trabalhando há muito tempo. Eu já tava trabalhando nesse meu sonho desde os 16, o pessoal da banda também, então é uma coisa que aconteceu porque eu acho que tinha que acontecer, sabe? É tempo, é momento e é muito orgânico como tudo aconteceu. É muito orgânica também a relação que as pessoas tiveram com o nosso trampo, como chegou em cada pessoa e como elas se apropriaram disso. Então, acho que as mudanças desses 12 meses é ver o quanto de verdade tem tudo isso. Não é um privilégio, é um trampo que a gente tá fazendo de muito tempo. Eu sou muito de aterrar nosso pé no chão cada vez mais, saber que isso acontece porque tem essa troca direta com as pessoas, porque a gente tá falando o que a gente tá sentindo.

Pouco antes da gravação teve o falecimento da Bárbara [Rosa, backing vocal do grupo]. Como isso afetou o disco?

A Bárbara foi pro tempo, mas é uma pessoa presente na nossa vida sempre. A gente sabe que ela tá olhando onde quer que ela esteja e que com certeza ela tá bem. Foi um lance de muita coisa, né? Show, o disco vindo, antes de entrar no estúdio, essa perda muito grande. É um processo de remontar, pegar tudo isso, guardar onde tem espaço dentro da gente e transformar isso em coisas boas. A Bá é uma pessoa muito presente pra gente. E ela estudava comigo no colegial, então tem toda uma relação de antes. Ela viveu aqui todos os momentos possíveis, foi feliz em todos os momentos, foi uma motivação muito forte pra gente. Ela tá aí.

Pra você, o que é sucesso?

Sucesso? Eu não tenho uma definição, não sei, não tenho mesmo. Acho que no nosso lance não é o sucesso que acontece, sabe? É essa troca verdadeira, é o que me vale. O que me vale com as pessoas é muito mais a troca que eu tenho com elas do que falarem que eu sou uma cantora famosa, uma cantora de sucesso. Tudo que acontece tem um propósito.


FONTE BRAVO!

Não foi bem assim, Narcos: o que a 2ª temporada mudou na história de Pablo Escobar

ATENÇÃO, ESTE TEXTO CONTÉM MUITOS SPOILERS!!

Antes de cada episódio de Narcos, um aviso diz que a série é inspirada em fatos reais, mas que alguns personagens, cenas, nomes, locais e incidentes são fictícios. Mesmo as diferentes biografias de Pablo Escobar, líder do Cartel de Medellín, contam algumas histórias de formas distintas.

Até o filho de Escobar, Juan Pablo, conhecido hoje como Sebastián Marroquín, autor de uma destas biografias, apontou 28 erros na segunda temporada da série do Netflix. Muitos são praticamente impossíveis de serem checados, principalmente os que envolvem a relação nada amistosa entre os integrantes da família Escobar. Mas alguns deles são facilmente notados, e assim fica fácil ver que a história do maior mafioso colombiano não foi bem assim como a série conta.

A própria caracterização de Juan Pablo não faz muito sentindo cronologicamente. Enquanto ele aparece como uma criança nas duas temporadas, Juan Pablo tinha 16 anos quando o pai foi morto e atuava quase como uma espécie de porta-voz da família, atendendo a imprensa e intermediando entrevistas dos repórteres com o pai.

O UOL garimpou alguns casos em que a vida real divergiu com a série e conta para você aqui:

La Quica não estava na Colômbia


Na segunda temporada da série, La Quica aparece como um dos sicários mais fiéis de Escobar. Mas acontece que ele já não estava na Colômbia durante o período pós-fuga da Catedral.

La Quica, cujo nome é Dandeny Muñoz Mosquera, foi preso nos Estados Unidos em setembro de 1991 –Escobar deixou a Catedral em julho de 1992. La Quica estaria envolvido no atentado contra o avião da Avianca em 1989. Hoje ele continua preso nos EUA, condenado a dez prisões perpétuas.

O Serviço de Inteligência da polícia colombiana o responsabilizou como autor intelectual pela morte de mais de 200 policiais em Medellín e por atentados com carros-bomba em Medellín, Cali e Bogotá. Na época da sua última prisão, acreditava-se que ele estava nos EUA cumprindo alguma missão a mando de Escobar, possivelmente para eliminar inimigos do cartel.


La Quica efetivamente foi um dos homens importantes do Cartel de Medellín. Segundo arquivos da imprensa colombiana da época, ele esteve preso na Colômbia outras duas vezes, e a facção gastou milhões para resgatá-lo da prisão, já que ele seria importante para a execução das ações terroristas da organização.

Na primeira prisão, em agosto de 1988, La Quica deixou o presídio içado por um helicóptero junto com o seu irmão. Em 1991, quando foi preso pela segunda vez na Colômbia, policiais de Bogotá também receberam um suborno milionário para facilitarem sua fuga. Ele deixou o país rumo aos EUA pela cidade de Barranquilla com documentos falsos, até ser preso pelo DEA em Nova York.

Limón e as atividades da Catedral


El Limón, ou Alvaro de Jesús Agudelo, realmente foi o último sicário a morrer ao lado de Escobar, como conta a série. Mas ele não foi recrutado pelo Cartel de Medellín após a fuga da Catedral, como mostra a série.

Limón foi motorista do irmão mais velho de Pablo Escobar, Roberto, o Osito, e teria entrado para o círculo de Pablo quando Roberto se entregou às autoridades em 1991.

Ele era o responsável por coordenar e pagar os subornos aos soldados e policiais para a entrada de caminhões na Catedral, de visitas e para que todos fizessem vistas grossas para o que acontecia por lá. Juan Pablo diz que conheceu Limón em uma destas viagens dos caminhões para a prisão de luxo de Escobar.

Juan Pablo diz que Limón era um desconhecido da polícia, sem ficha criminal, mas não era bem assim. A Procuradoria-Geral sabia que ele era o responsável pelos subornos, que entrava e saía da prisão sem qualquer problema.

 O filho de Escobar acusa o tio de ser informante da DEA e afirma que Limón o ajudou com informações sobre os passos do líder do cartel aos americanos e aos paramilitares dos Pepes.

A fuga para a Alemanha


Na história contada pela Netflix, a família Escobar foge para a Alemanha depois de um ataque dos paramilitares a um dos esconderijos em que eles viviam com o narcoterrorista. Eles realmente tentaram entrar em território alemão em um voo da Lufthansa após um atentado contra a família, mas estavam, na verdade, já sob proteção da Procuradoria.

Enquanto a Justiça tentava negociar a rendição de Pablo, a família foi levada para um edifício em Medellín com seguranças. Mas um atentado com granadas foi realizado na recepção do prédio, e um mês depois das explosões, no fim de novembro de 1992, a família perdeu a proteção policial dada pela Promotoria. Por isso, decidiu embarcar para a Alemanha. Mas os passageiros que embarcaram na série não são os mesmos da história real.

Viajaram Maria Victoria Henao (a Tata), Manuela Escobar, Juan Pablo e sua namorada (a avó não viajou. Saiba mais sobre ela no próximo tópico). Tudo isso aconteceu dias antes da morte de Escobar. Impedida de entrar no país mesmo com o pedido de asilo, a família regressou e foi instalada pelo governo no hotel Tequendama, em Bogotá, para onde Escobar telefonava sem qualquer esquema de segurança --ele foi localizado graças a um desses telefonemas, quando falava com o filho.

Ao apontar os erros da série, Juan Pablo acusa a Promotoria de tratá-los como reféns durante o período em que estiveram sob proteção policial. "Sequestrados pelo nosso próprio Estado, acusados pelo crime de parentesco", disse ele.

A família só conseguiu deixar a Colômbia no fim de 1994, com uma nova identidade dada pela Colômbia –a partir daquele momento se transformaram em "Marroquín Santos". Tentaram viver em Moçambique, mas acabaram se estabelecendo na Argentina, onde vivem até hoje. Antes, segundo a imprensa colombiana, os Escobar chegaram a viver algumas semanas em São Paulo e no Rio de Janeiro, de onde partiram para Buenos Aires.

A avó que não deixou a Colômbia


A série mostra que a mãe de Escobar, Hermilda Gaviria, viveu fielmente ao lado do filho durante todo o tempo de seu reinado no cartel. Mas o seu neto Juan Pablo não parece ser tão fã da avó: ele a acusa de ser informante do Cartel de Cali.

"Minha avó paterna traiu o meu pai e se aliou com o seu filho mais velho, Roberto, negociou com os Pepes e colaborou tão ativamente que isso permitiu que ela vivesse tranquilamente na Colômbia enquanto seguimos no exílio. Gostaria muito de ter a versão tão 'terna' da minha avó que a série mostra", diz ele.

Entre a onda de ataques realizados pelos Pepes em fevereiro de 1993 contra os familiares de Escobar (que motivou a tentativa de embarque para os EUA) está a explosão da casa de campo de Hermilda. Existem também boatos não provados de uma tentativa de sequestro. Em declarações aos jornalistas, ela nunca deixou de defender o filho e esteve no local em que Escobar foi morto após o ataque dos militares. Hermilda morreu em 2006 e foi enterrada no mesmo cemitério que o traficante.

O cunhado que morre sequestrado


Carlos Arturo Henao Vallejo, o cunhado de Escobar, realmente morre durante a guerra do Cartel de Medellín com os Pepes, como mostra a série, mas de uma forma bem diferente. Enquanto na atração da Netflix ele morre no ataque dos paramilitares a um dos esconderijos da família, na vida real ele foi sequestrado, torturado e morto. Seu corpo foi encontrado com pés e mãos amarrados exposto em um local público de Medellín, como tradicionalmente era feito pelos paramilitares.

A imprensa da época identifica Carlos como contador e diz que ele teria ligação com a rede de tráfico de Escobar em Miami. Mas Juan Pablo afirma que o tio ele era vendedor de bíblias e nunca esteve envolvido em atividades ilícitas do pai.

A rainha do narcotráfico que não existe


Judy Moncada, a personagem forte e vingativa da série, não é real --é mais um dos personagens criados para amarrar a série. Ela é a representação das famílias Moncada e Galeano na vida real, ex-sócios do Cartel de Medellín que realmente se aliaram aos paramilitares e ao Cartel de Cali para derrubar Escobar. E sim, Fernando Galeano e Gerardo Kiko Moncada foram mortos, esquartejados e tiveram os corpos queimados dentro da Catedral.

Os irmãos Fidel e Carlos Castaño lideravam os Pepes (Perseguidos por Pablo Escobar), grupo que teve origem nas Autodefesas Camponesas de Córdoba e Urabá, que lutava contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

O filho de Escobar diz que não foi a CIA quem propôs a criação do grupo mercenário, e que ele teria sido fruto de uma decisão de Fidel Castaño, com o apoio de Cali e autoridades locais e estrangeiras (que faziam vista grossa para as atrocidades cometidas pela facção). O próprio Fidel Castaño, em uma entrevista dada em 1994, diz ter sido o criador do grupo contra Escobar.

O envolvimento da CIA nas operações paramilitares é uma incógnita não-solucionada até hoje, mas a ligação do grupo com políticos colombianos é revelada até os dias atuais.

A repórter que não morreu


Valeria Vélez, a jornalista amante de Pablo Escobar que é torturada e morta e cujo corpo é deixado diante do Tequendama na série, foi inspirada na jornalista Virginia Vallejo García, que está viva e mora nos Estados Unidos sob proteção do governo.

Ela só confirmou em 2006 os boatos de que teria sido amante de Escobar por cinco anos, na década de 1980. Segundo ela, o governo americano a tirou da Colômbia depois de ela aceitar testemunhar no caso da morte de um dos candidatos à Presidência envolvendo Escobar e o ex-senador Aberto Santofimio, que estava sendo julgado. Virginia diz ter colaborado ainda em outros casos com os EUA, envolvendo evidências contra o Cartel de Cali com políticos colombianos.

Segundo a jornalista, ela tem desde 2010 o status de asilo político concedido pelos EUA.

Juan Pablo nega que sua mãe tenha tido qualquer tipo de contato com Virginia. Logo, segundo ele, nunca existiram telefones especiais enviados por Pablo Escobar (os telefonemas eram feitos em linhas normais, e foi assim que a localização do traficante foi descoberta). O filho ainda acusa a jornalista de ter sido amante dos chefes do Cartel de Cali enquanto se relacionava com Escobar.

A proteção de Gustavo de Greiff


Juan Pablo afirma que o gabinete do Procurador Gustavo de Greiff estaria totalmente infiltrado pelo Cartel de Cali, além de criticar as condições em que a família teria sido mantida isolada durante o período em que estiveram sob proteção policial.

De Greiff de fato negociou para que Escobar se entregasse e teve suas diferenças com o governo. Em seu livro, o irmão de Pablo, Roberto, acusa o procurador de ter recebido suborno para negar o envolvimento de La Quica no atentado contra o avião da Avianca –De Greiff efetivamente o inocentou do crime, mas nega categoricamente a propina e diz não ter evidência do envolvimento do sicário de Pablo no atentado.

"De Greiff era uma figura um tanto excêntrica e bastante liberal, mas não era envolvido com narcotráfico. Não aceitaria suborno. Ficou conhecido por negociar com narcotraficantes e paramilitares, tentou uma série de acordos para que os narcos se desmobilizassem", diz Gustavo Duncan Cruz, autor de "Los Señores de la Guerra" e professor da Universidad EAFIT em Medellín.

O procurador chegou a ter o visto americano recusado pelo governo Clinton depois de ter defendido a descriminalização das drogas em um evento nos EUA. Quando questionado sobre a sua suposta proteção aos líderes do Cartel de Cali, De Greiff disse, na década de 1990, que o governo americano não entendia que a redução de penas em troca de colaboração para desmantelar organizações seria uma boa política, e não um indulto ou uma imunidade.

Carrillo só morreu na ficção


Como Juan Pablo afirma, Escobar não matou Horacio Carrillo em uma cena de vingança –afinal, é um personagem da ficção, levemente inspirado no comandante do Grupo de Busca, Hugo Martínez Poveda. Logo, Escobar não matou nenhum comandante. A confusão fica maior na série, já que Martínez entra na história –e sim, foi o filho de Martínez, também militar, quem encontrou Escobar em uma janela e alertou para a ação que matou o líder do cartel. Há que diga que a série faz um desserviço ao minimizar as táticas de Martínez, que pouco aparece na segunda temporada e é considerado o herói da captura de Escobar.

A morte de Pablo Escobar


Este é um ponto sensível e depende da versão em que você quer acreditar. A polícia colombiana (e a série) diz que o narcotraficante foi morto durante a fuga em um telhado e que os tiros foram todos dados por oficiais. O filho de Pablo sustenta a versão de que seu pai cometeu suicídio e afirma que ambos já tinham conversado sobre isso. "Meu pai se suicidou como me disse dezenas de vezes. Não me surpreendeu que o tiro que lhe tirou a vida tenha sido de sua própria mão e pistola, a dois milímetros de distância, de onde sempre me jurou que ele mesmo o faria", disse Juan Pablo.

O filho vai além e diz que não foi a polícia quem promoveu a ação em que o pai acabou morto, mas os paramilitares. Ele diz que o próprio Carlos Castaño confirmou esta informação para sua mãe. A necropsia revelou que um dos tiros que atingiu Escobar foi dado na cabeça, perto da orelha direita.

Martínez, ex-comandante do Grupo de Buscas, recusa categoricamente qualquer versão que não seja a de que os militares tenham abatido o narcotraficante. Ele nega o envolvimento de paramilitares na ação, a participação de agentes do DEA e até mesmo que Escobar tenha sido morto com um "tiro de misericórdia", como sugere a série.

Segundo Martínez, o americano Steve Murphy, que aparece na famosa foto ao lado do corpo, só chegou ao local minutos depois da morte de Escobar, e foi até lá com a carona do próprio comandante colombiano. Ele admitiu, entretanto, que os irmãos Castaño, líderes dos Pepes, eram informantes esporádicos dos militares, e entregavam informações sobre Escobar.

A reunião com Cali


A série mostra Tata, a versão de María Victoria na Netflix, em busca de ajuda do Cartel de Cali. Ela pede apoio para deixar o país, e Gilberto Rodríguez Orihuela, um dos líderes da facção, diz que tudo o que os Escobar possuíam será tomado por eles. Já Juan Pablo afirma que sua mãe não procurou o Cartel de Cali, e sim foi convocada para a reunião com os integrantes da facção. 

Segundo ele, mais de 40 chefes mafiosos da Colômbia participaram do encontro. Quem teria salvado a vida de María Victoria, segundo o filho, foi Miguel Rodríguez Orihuela, e não Gilberto, como mostra a série. "Nessa ocasião nos roubaram os bens herdados e repartiram entre eles como parte do saque da guerra", acusa o filho.

Houve um encontro em fevereiro de 1994 entre narcotraficantes no Valle do Cauca, região onde fica Cali, que foi noticiada pela imprensa na época como o "pacto de paz da máfia". O envolvimento de María Victoria e Juan Pablo nestas negociações é citado pelas reportagens da época. A fortuna de Escobar seria supostamente usada para indenizar as vítimas da guerra dos cartéis em Cali segundo a imprensa.

O que se sabe é que a estrutura do narcotráfico em Medellín acabou mesmo na mão de paramilitares, como Dom Berna, e a região se manteve como uma das principais exportadoras de cocaína. Os bens da família Escobar foram expropriados pelo governo ao longo dos anos. Mas tudo isso deve ficar (ou não) para a próxima temporada, focada no Cartel de Cali.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

'Vi que estavam querendo me matar', diz travesti agredida no Rio

A travesti agredida em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio afirmou, em entrevista ao Bom Dia Rio, que acredita que seus agressores tentaram matá-la. Já sua irmã, que presenciou a cena, reprovou a passividade dos espectadores da cena. "Ela estava com o rosto sangrando no chão e ninguém se levantou para ajudar", disse.

A violência ocorreu no último domingo (11), depois que a travesti Taísa e sua irmã entraram numa van. Segundo elas, um dos agressores começou a insultar Taísa com ofensas homofóbicas. "Há seis anos sou travesti e nunca sofri preconceito. Foi a primeira vez. Acho que os caras já estavam ali mesmo para fazer maldade com alguém. Onde o cara vai levar uma faca? Era alguma coisa que ele queria, ou assaltar ou matar mesmo", afirmou Taísa. 

A discussão evoluiu para agressões físicas, que foram filmadas e causaram revolta na internet. A travesti contou que ficou impressionada com o vídeo. "O que eu vi naquele vídeo era que eles estavam querendo me matar", disse Taísa, que continuou apanhando quando já estava desacordada no chão. A irmã dela também foi agredida. Segundo a polícia, antes disso, a travesti tinha conseguido tomar a faca de um dos agressores e esfaqueá-lo.

A polícia diz que a motivação do crime foi homofóbica. Os três suspeitos foram identificados na terça-feira (13) e presos nesta quarta (14). Segundo investigadores, o homem sem camisa que aparece no vídeo é Rodrigo Luiz Silva Soares. Os outros dois são Jorge Batista Ignácio (de camisa branca) e Cleiton da Silva (que aparece no final do vídeo segurando uma camisa na mão).

Travesti ficou com ferimentos na cabeça e outras partes do corpo. Ela apanhou até desmaiar (Foto: Reprodução/TV Globo)
Travesti ficou com ferimentos na cabeça e outras partes do corpo. Ela apanhou até desmaiar (Foto: Reprodução/TV Globo)

Arrependimento
O delegado Daniel Mayr, da 36ªDP (Santa Cruz), afirmou que os suspeitos da agressão se disseram arrependidos em depoimento, após serem presos temporariamente. Eles também alegaram "legítima defesa", o que foi contestado pelo delegado.

"Eles demonstraram arrependimento e consciência do risco que colocaram a vítima. No [caso do] Rodrigo você via isso, mas ele preferiu seguir aquela linha de não se comprometer. As agressões ele reconheceu, disse que era ele e que perdeu a cabeça e ficou nervoso. Todos eles, principalmente os outros dois, perceberam que colocaram a vida da pessoa em risco pela característica inúmera de golpes e pela circunstância que a vítima estava", disse o delegado.

Mayr afirmou ainda que os homens confirmaram que bateram na travesti quando ela estava desmaiada.

"O que não há é legítima defesa em relação aos autores, porque tem uma pessoa sendo agredida, uma pessoa por três, já cabe uma desproporcionalidade de legítima defesa, e aquela pessoa estava caída e desmaiada. Inclusive, foi perguntado pra eles, e eles tiveram que responder que a pessoa já estava desmaiada. Eles chutavam enquanto a pessoa já estava desmaiada."

Segundo os depoimentos, Rodrigo estava agredindo Taísa fora da van, enquanto os dois amigos dele continuavam no veículo. Depois, Jorge Ignácio e Cleiton descem e se juntaram ao primeiro agressor.

"Eu perguntei: 'Você saiu pra agredir a pessoa por quê? Qual foi o motivo se você diz que estava dormindo?'. [Os agressores respondem:] 'Ah, porque eu fui ajudar o meu amigo'. Aí eu insisto mas perguntas: 'Qual tipo de ajuda o seu amigo estava precisando diante de uma vítima que já estava caída?', aí ele não sabe responder. 'Qual a necessidade de agredir uma pessoa que já está desmaiada com golpes na canela?'. Eles também não souberam responder", disse o delegado.

Mayr afirmou que, para a polícia, os agressores "não tinham controle nenhum sobre a consequência do que poderia advir daqueles golpes". Segundo ele, os suspeitos vão responder pelo crime de tentativa de homicídio.

Um inquérito foi instaurado e diligências foram feitas para apurar o crime. Também foram analisadas as imagens do espancamento e localizadas as vítimas, que contaram em depoimento os detalhes do crime.

Vítimas

A travesti e a irmã foram levadas ao Hospital Municipal Pedro II após as agressões, assim como Rodrigo, que sofreu um golpe de faca na barriga. A vítima alega que tomou a faca de um dos agressores. Todos estão fora de perigo, segundo a polícia.

A travesti afirmou em depoimento que foi alvo de agressões verbais ao entrar na van e por isso teria golpeado Rodrigo. Ainda segundo o delegado, a irmã da vítima também confirmou a versão, mas Rodrigo negou que tivesse feito algum xingamento dentro da van. Os outros dois amigos de Rodrigo estavam dormindo dentro da van e só foram acordados na hora em que ele já estava fora da van e tinha sido golpeado com a faca pela travesti.

"A vítima diz que estava sendo agredida dentro da van e admite que praticou alguns golpes contra ele pra se defender", afirmou Daniel Mayr.

A irmã de Taísa contou que ficou triste com a falta de reação das pessoas que viam a cena. “No momento que eu estava tentando ajudar ela tinha muita gente ali e eu pensava que alguém ia vir para ajudar, mas ninguém veio. Eu fiquei muito triste. Tinha gente sentada, olhando. Ela estava com o rosto sangrando no chão e ninguém se levantou para ajudar, pelo menos para segurar. Não era para bater, era para segurar a situação, porque o ponto que estava chegando ali era para ela ir à morte. Não era para ela estar aqui”, disse.

Vídeo das agressões

O vídeo com a agressão continua sendo compartilhado na internet, com centenas de visualizações nas redes sociais. A imagem já teve mais de 4 milhões de visualizações, 22 mil comentários, 18 mil curtidas e 45,5 mil compartilhamentos.

FONTE G1

Relatório contabiliza 137 assassinatos de índios no Brasil em 2015

Apresentação do relatório "Violência contra os povos indígenas", do Cimi (Foto: Gustavo Garcia/G1)
Apresentação do relatório "Violência contra os povos indígenas", do Cimi (Foto: Gustavo Garcia/G1)

O relatório "Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil", divulgado nesta quinta-feira (15) pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), informa que 137 índios morreram vítimas de assassinato no ano passado no Brasil.

Os dados do relatório são da Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, e foram obtidos pelo Cimi por meio da Lei de Acesso à Informação e apresentados em cerimônia na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília.

Segundo o relatório, em 2014, houve 138 assassinatos de indígenas, um a mais que no ano passado, e, em 2013, 53. Desde 2003, ano em que o relatório começou a ser divulgado, foram registrados 891 homicídios de indígenas.

De acordo com o levantamento, não é possível dizer quantos dos 137 indígenas assassinados em 2015 foram vítimas de conflitos por terras, principal razão para homicídios de indígenas.
Segundo o texto, a Sesai não informou detalhes das ocorrências, como faixa etária das vítimas e locais exatos das mortes.

"A fragilidade destes dados dificulta uma clara percepção da autoria dos homicídios, se eles tiveram como pano de fundo a disputa pela terra ou, nesse sentido, se são consequência do fato de os indígenas não estarem vivendo em seus territórios tradicionais", diz o documento.

Em 2015, segundo dados da Sesai, o estado que registrou mais mortes de indígenas foi Mato Grosso do Sul, com 36 casos. No estado, a cidade com maior número de ocorrências é Dourados.

Letícia Sabatella: “Minha ideologia não está à venda”

letícia-site

Desde que se posicionou publicamente contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Letícia Sabatella tem sido alvo de constantes ataques nas redes e nas ruas. Em Curitiba, há três meses, ela chegou a ser encurralada por manifestantes pró-impeachment, que a chamavam de “puta” e “comunista sem vergonha”. A atriz só conseguiu deixar o local amparada por policiais. Nas caixas de comentários do Facebook, não é raro ver seu nome acompanhado por termos como “petista”, “esquerda caviar” e derivações do tipo.

“Acabou virando uma luta, um combate em que você busca pela ética, você demanda das pessoas que elas combatam com ética, mas muitas delas acabam usando de calúnias, mentiras”, diz a atriz à Revista CULT, por telefone. “Vão criando bodes expiatórios que não resolvem o problema, só destroem as pessoas. Vira uma guerra.”

Na próxima quinta (15), ela apresenta em São Paulo o Caravana Tonteria, projeto musical que mantém com Paulo Braga (piano), Fernando Alves Pinto (serrote, trompete e violão) e Zéli Silva (contra-baixo), com direção de Arrigo Barnabé.

No repertório, há canções autorais e clássicos de nomes como Chico Buarque, Cole Porter, Duke Ellington e Kurt Weill. Ela diz que, em relação ao público, seu posicionamento político funcionou como um “aglutinador”, que “atrai pessoas que querem falar verdadeiramente, buscar uma solução juntos”.

“Todos têm o direito de trabalhar nessa sociedade e ao mesmo tempo ter uma posição política. Esse tipo de cuidado, de manter na delicadeza a sua cidadania como um dever, desculpa, eu não posso abrir mão, minha ideologia não está à venda”, afirma. “O posicionamento político é por algo maior, é um exercício de cidadania. É a porção política que me cabe.”

Caravana Tonteria
Quando: 15/09, às 21h
Onde: Theatro Net, Shopping Vila Olímpia, R. Olimpíadas, 360, Vila Olimpia – SP
Quanto: Entre R$80 e R$100

FONTE REVISTA CULT

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

No cárcere

Projeto “SemPeia”, idealizado pelo coletivo “As 3 Marias”, quer levar oficinas teatrais para unidade prisional em SP com a intenção de trabalhar memória, identidade e senso coletivo.

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por Paulo Henrique Pompermaier

Em 2014, a população carcerária feminina no Brasil chegava a 37.380. O número colocava o país como o quinto que mais encarcerava mulheres no mundo, segundo uma pesquisa do ICPR (Institute for Criminal Policy Research). As perspectivas não são positivas: desde 2000, ao longo de 14 anos, o número de mulheres presas aumentou 567% no Brasil, mais que o dobro do percentual masculino, que chega a 220%., segundo a mesma pesquisa.

O teatro, como apontado pelo dramaturgo e ensaísta Augusto Boal desde a década de 1960, é uma forma de dialogar e dar voz às experiências do oprimido. Nesta trilha, o coletivo “As 3 Marias”, formado pelas atrizes e educadoras Alice Stamato e Luana Mincoff e a advogada e atriz Carol Narchi, lança o projeto “SemPeia”, que pretende levar o teatro para dentro do Sistema de Progressão Carcerário Feminino Dra. Marina Marigo Cardoso de Oliveira, no Butantã, em São Paulo.

“O teatro é uma forma poderosa de, dentro de um sistema penitenciário precário, trabalhar a memória, a identidade, o senso coletivo, a confiança, a troca”, diz Luana Mincoff, que o vê como uma ferramenta importante para socialização na medida em que “deixa a pessoa vulnerável, cru, sem máscaras, em contato com coisas que são difíceis e dolorosas”.

Ainda em fase de arrecadação de fundos, o projeto terá quatro etapas: oficinas de quatro horas semanais ministradas dentro do presídio, nas quais a linguagem teatral será introduzida; início da construção da dramaturgia, de livre temática, assentada nas experiências e memórias das reclusas; começo dos ensaios e construção cênica, com a produção das detentas em qualquer área que queiram (figurino, cenografia, iluminação, por exemplo); e finalmente o espetáculo, que será encenado dentro do presídio.

A idéia é que “SemPeia” tenha duração mínima de cinco meses, podendo ser expandido para nove, dependendo dos recursos financeiros. O sistema carcerário escolhido para iniciar o projeto tem regime semi-aberto, o que possibilita a encenação das reclusas fora da penitenciária.

Criação teatral

Uma das inspirações para a realização do projeto é o trabalho realizado pelo coletivo português A PELE, que pesquisa as formas artísticas no cárcere há cerca de nove anos. Hugo Cruz, co-fundador do grupo, acredita que o presídio “é um lugar com muitas feridas abertas, muito contraditório, mas é espaço privilegiado para se criar e pensar em outras alternativas na vida”.

“As pessoas presas normalmente passaram por situações difíceis e têm todos os motivos para desconfiar do outro. O processo de criação teatral nesses espaços é uma forma de experimentarmos outros padrões de relação com o outro, em que as pessoas percebem que podem ouvir, falar e serem ouvidas”, afirma Cruz, que ministra cursos em diversos países mostrando dinâmicas e metodologias relacionadas ao teatro em comunidade.

Em função da dificuldade de financiamento através de editais governamentais, como relata Luana, a forma adotada pelo grupo para conseguir o dinheiro necessário foi o crowdfunding, aberto desde 14 de julho, que segue recebendo doações até esta quarta (14), à meia noite. Mesmo em Portugal, que cada vez mais reconhece a pesquisa artística em presídios, não há apoio governamental, cabendo a fundações e a projetos da União Europeia o financiamento do PELE.

A intenção é que, ao fim das oficinas, as reclusas passem a desenvolver atividades teatrais autônomas. “A gente precisa acender uma chaminha e ir embora. Temos que mostrar que somos meras mediadoras daquela situação e que eles podem se promover e dar oficinas”, diz Alice. Nas palavras de Luana Mincoff, seria uma forma de “não dar a voz, pois elas têm vozes, mas propor um protagonismo, um espaço para que essas vozes sejam ouvidas”.

A luta de um grupo de crianças e de hospital contra as doenças mais raras do mundo

Retratos e histórias de crianças com doenças raras atendidadas por hospital em Birmingham, na Inglaterra, são exibidas em exposição (Foto: Birmingham Children's Hospital)
Retratos e histórias de crianças com doenças raras atendidadas por hospital em Birmingham, na Inglaterra, são exibidas em exposição (Foto: Birmingham Children's Hospital)

Fotos e histórias de 11 crianças que enfrentam algumas das mais raras doenças do mundo foram parar na rua, no centro de Birmingham, a segunda maior cidade da Inglaterra.

A iniciativa faz parte de uma exposição organizada pelo Hospital Infantil da cidade inglesa para angariar fundos e criar o primeiro centro de pesquisas e tratamento de doenças raras no Reino Unido. O hospital já conseguiu levantar 1,5 milhão de libras esterlinas (aproximadamente R$ 6,7 milhões). O objetivo é atingir a cifra de 3,65 milhões de libras.

Segundo a médica Larissa Kerecuk, responsável pelo departamento de doenças raras do Hospital Infantil de Birmingham, a ideia "é dar mais qualidade de vida e oferecer uma estrutura para ajudar pacientes e seus familiares a lidar com essas doenças, ao invés de deixar a doença dominá-los".

Kerecuk é uma pediatra brasileira que há 30 anos vive no Reino Unido. Ela conta que a ideia de fazer fotos dos pacientes veio de uma das mães e o hospital abraçou o projeto, inspirado numa iniciativa similar de Nova York.

Retratos de 11 pacientes portadores de doenças raras ou ainda não diagnosticadas que fazem parte da exposição em Birmingham, na Inglaterra  (Foto: Kris Askey/Birmingham Children's Hospital)
Retratos de 11 pacientes portadores de doenças raras ou ainda não diagnosticadas que fazem parte da exposição em Birmingham, na Inglaterra (Foto: Kris Askey/Birmingham Children's Hospital)

"As crianças adoraram as fotos e foi muito bom para as pessoas saberem que Birmingham já é uma referência. Tem muito estigma e, ao mesmo tempo, é muito difícil de lidar. Às vezes não têm cura e muitos dos pacientes morrem antes de chegar à idade adulta. Queremos dar mais qualidade de vida às crianças e aos seus familiares", diz, emendando que gostaria de estender a iniciativa ao Brasil.

"Se eu pudesse fazer algo para também ajudar pacientes no Brasil seria ótimo", completa a médica que nasceu em São Paulo e morou em Curitiba, antes de se mudar para a Inglaterra.

Kerecuk conta que, por ano, o hospital onde trabalha atende 9 mil crianças com doenças raras e outras 5 mil que ainda buscam por um diagnóstico. Doenças raras agrupam as que colocam em risco ou debilitam cronicamente até cinco pessoas num grupo de 10 mil e que requerem esforços especiais de tratamento.

Veja alguns dos retratos, feitos pelo fotógrafo britânico Kris Askey, e conheça as histórias de cinco dessas estrelas que lutam todo dia para viver.

Kadie-Leigh ainda espera por um diagnóstico

 Kadie-Leigh sofre de condição que afeta rim e bexiga e só foi vista em outras três crianças no mundo (Foto: Kris Askey/Birmingham Children's Hospital)

Kadie-Leigh Hamilton, de 2 anos, tem uma doença tão rara que permanece sem diagnóstico.

Sua família tem conhecimento de apenas outras três crianças no mundo com o mesmo problema, que afeta os rins e bexiga.

Antes mesmo da garota nascer, a mãe dela ouviu de especialistas que Kadie-Leigh não iria sobreviver. Depois de passar as primeiras 11 semanas de vida no hospital, Kadie-Leigh se tranformou no que a própria mãe chama de "pequeno milagre".

Kadie-Leigh é suscetível a infecções urinárias e é submetida a consultas regulares no hospital infantil Birmingham para monitorar sua condição renal.

Apesar da saúde frágil, Kadie-Leigh tenta ter uma infância o mais próximo possível do normal. Gosta de se vestir de princesa e de brincar de faz de conta com seus amigos na creche.

Thomas aguarda transplante de rim

Thomas, que espera por um transplante, celebrou seus 4 anos num quarto de hospital (Foto: Kris Askey/Birmingham Children's Hospital)

Thomas Davies, de 4 anos, é falante e adora assistir filmes repetidamente - os musicais Mamma Mia e Les Misérables são os seus favoritos.

Seus rins não se desenvolveram como deveriam - um não funciona o outro tem apenas 4% da capacidade de um rim normal.

Por causa da rara condição renal, ele corre sério risco de morte e aguarda um transplante. Ele também segue uma rígida dieta.

Durante os últimos três anos, Thomas tem sido submetido à sessões de quatro horas de diálise quatro vezes por semana. Estava no hospital no dia de seu aniversário de 4 anos.

Os pais e os três irmãos do garoto vivem a ansiedade diária de quem espera por um doador compatível, capaz de dar uma vida nova ao garoto.


Internauta que defende "direito" de homens estuprarem filhas tem mais de 2 mil seguidores

Internauta brasileiro que está em liberdade defende que homens possam estuprar suas filhas como forma de iniciação sexual e pede a legalização da pornografia infantil. Mallone Morais afirma que, dessa forma, o homem evitará o desgosto de ver a menina crescer e se tornar uma “feminista peluda”.

Mallone Morais estuprar pedofilia
Mallone Morais (reprodução)

O texto, assim como os vídeos, é difícil. Para essa matéria, as palavras não saem, da boca e nem do teclado, mas têm que sair. Mallone Morais publica vídeos no YouTube com debates (nos quais ele é o único a opinar) sobre temas “polêmicos”, como gosta de chamá-los.

Consegui assistir a dois vídeos, não foi possível ir além. Um deles, que viralizou na internet, defende que um pai que tenha “vergonha na cara” estupre sua filha quando voltar da escola, porque caberia a ele o direito de iniciar a garota sexualmente. O outro vídeo pede que as autoridades compreendam que quem consome pornografia infantil não está praticando mal contra ninguém.

A primeira gravação é uma homenagem declarada a James Bartholomew Huskey, um professor de tênis que abusou de diversas alunas e reuniu centenas de vídeos das violências cometidas contra elas. Ele foi preso pelo FBI e condenado a 70 anos de prisão.

A argumentação feita por Mallone aponta o agressor como injustiçado e reforça, veementemente, que pais iniciem suas filhas na vida sexual, como Huskey, que estuprou a filha, de 5 anos. Mallone afirma que, dessa forma, o homem evitará o desgosto de ver a menina crescer e se tornar uma feminista “peluda” e que “dá para qualquer maconheiro”.

MC Melody

No segundo vídeo, Mallone diz que pornografia infantil é “infelizmente” ilegal e que isso também é uma injustiça. Para ele, há muito preconceito contra homens que se sentem seduzidos por crianças. Ele diz que gosta dos corpos das meninas sem roupa e que notou a atração ao acompanhar a carreira da cantora MC Melody.

Melody é uma menina que fez sucesso na internet com a música “Falem de mim”, composta pelo pai, MC Belinho. Logo críticas à grande exposição que o funkeiro fazia da filha tomaram as redes e culminaram na remoção de vídeos da página oficial da artista.

Prisão

No ínicio do ano, Mallone de Morais foi preso por porte e compartilhamento de pornografia infantil. Em 3 de julho, ele concederia entrevista para a RedeTV, mas cancelou em cima da hora. Como justificativa, afirmou que é autista e que está se tratando, tomando remédios controlados. Ele foi preso e liberado sob pagamento de fiança.

“Cara, não vai dar para mim. Recebi conselho de alguns amigos e é melhor deixar quieto, já estou encrencado na polícia, fui pego com pornografia infantil no PC e fui processado. Um crime sem vítima. Eu tenho laudo do psiquiatra, eu sou autista, meus pais jamais deixariam eu ir dar essa entrevista. Nenhum cara que curte ver pornografia infantil e gosta de meninas ia se expor desse jeito”, teria dito para a RedeTV.

Ps.: Os vídeos foram removidos do Youtube após a publicação desta reportagem.

Abuso sexual na infância e a fragilidade moral

O sociólogo Luis Flávio Sapori constata que “a violência brasileira não é mais produto da miséria e da pobreza; tem origem na fragilidade moral da sociedade”.

Ou seja, ele analisa, de acordo com os dados atualmente expostos, que o país avançou economicamente, apesar da crise; deu passos largos na área social e educacional como fruto de tantas políticas públicas implementadas pelos governos dos últimos anos; todavia, contrapondo-se a isso, os índices de violência, seja qual for ela, continuam alarmantes.

Nesse sentido, roga-se atenção para a violência do abuso sexual na infância, que, muito mais que física, é uma violência que agride toda a personalidade da criança/adolescente vítimas dessa prática, deixando sequelas pelo resto da vida, traumas insanáveis.

Mas, é necessário perguntar: como é possível um país que avançou tanto em diversas áreas ainda apresentar um número tão elevado desse tipo de prática criminosa?

Ressalta-se, ainda, que os casos que chegam ao conhecimento da população ainda são um número bem menor do que realmente ocorre, isso porque o abuso sexual na infância, muitas vezes, está restrito ao ambiente familiar.



Segundo Sapori, a fragilidade moral é o grande vilão da sociedade brasileira contemporânea. Associando-a com o abuso sexual, pode-se notar essa crise de diversas formas.

A primeira é quando se observa o seu principal agressor: dados apontam que, comumente, ele é um membro da mesma família da vítima, apresentando ligações afetivas com ela e submetendo-a ao medo, à violência, ao sentimento de culpa por não compreender o que está acontecendo, e muitas vezes até induz a ver essa situação como algo normal.

Ao lado disso, as pesquisas também mostram que os demais membros da família, quando têm conhecimento da prática criminosa, acabam resguardando o agressor com o escopo de não “destruir” a família.

E, por fim, a própria sociedade põe uma venda nos olhos para deixar de lado essa problemática. Desse modo, na conjuntura que ali se forma – agressor, família, vítima e sociedade – é firmado um pacto de silêncio, que, além de proteger o criminoso, contribui para a manutenção dessa prática; logo, atestando a fragilidade moral presente na sociedade contemporânea, em que os “valores morais” acabam sendo invertidos em prol da manutenção de uma família, por vezes, fictícia e não afetiva, como realmente deve ser.

(Brena Santos – advogada)

Coluna do dia – 13 de setembro de 2016

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Reforma para quem?

A Constituição de 1988, ao incorporar os direitos mais essenciais aos trabalhadores, normatizados inicialmente pela CLT, reconheceu a sua importância, e tem como escopo a tentativa de balizar uma situação que é notoriamente díspar.

Todavia, deixa-se claro que aqui não se defende uma ideia maniqueísta, em que o patrão é um vil explorador de mão de obra e o empregado, um “coitado”. Contudo, os eixos da equidade contratual devem ser e são balanceados pela legislação, por isso tão importante.

Diante dessa tratativa, num contexto de novo governo, pós-impeachment, começou-se a falar de forma mais intensa sobre uma reforma na legislação trabalhista, com a justificativa de promoção de empregos e correção de inseguranças jurídicas.

Nesse ínterim, cogitou-se a possibilidade de alargar a jornada de trabalho diária para 12 horas, o que condiz a um regime de (quase) escravidão.

Tal possibilidade foi veemente negada pelo ministro do Trabalho: “Venho do meio sindical, imagina se apresentaria proposta de aumento de jornada. Serão mantidas as 44 horas de trabalho por semana”, esclareceu.

Contudo, arrematou que “se o sindicato da categoria, mediante acordo coletivo e obedecendo à vontade dos trabalhadores, preferir fazer uma jornada diferente do padrão, o juiz tem de reconhecer isso”.

Esqueceu o ministro que toda a legislação trabalhista, ao impor regras, seja de jornada, hora extra, FGTS, 13.º etc., visa proteger o trabalhador.

A exemplo: ludibria o trabalhador ter um aumento salarial proporcional ao aumento da sua jornada de trabalho, seria um deleite ilusório para o seu bolso.

Agindo assim, é bem verdade que os objetivos almejados pela nova gestão serão atingidos, a saber, um aumento da produtividade, da economia e redução nas despesas trabalhistas, uma vez que apenas um funcionário conseguirá fazer o trabalho de dois.

Por outro lado, as flexibilizações, que abrem precedentes irreparáveis, representam um retrocesso ao trabalhador, inclusive no que se refere às suas condições de vida.

Não vejo como tais medidas podem aumentar as contratações. Pois, os maiores gastos do empregador, e que gera a redução da contratação de mão de obra, são os altos índices de impostos. No Brasil, corresponde a 71% do salário. Em comparação, esse valor é 42,7% na França, 38,6% na Itália, 29,9% em Portugal, 14,8% na Holanda, 13,7% no México e 8,8% nos EUA.

Logo, empregar no Brasil é caro; o investidor nacional ou internacional, ao aplicar o seu dinheiro, vai levar isso em conta.

Adotar medidas que flexibilizam os direitos dos trabalhadores é o caminho mais rápido, porém – nem de longe – corrigem o real problema do desemprego.

(Brena Santos – Advogada)

De testemunha de Jeová a voz do funk LGBT, MC Linn da Quebrada se diz 'terrorista de gênero'

MC Linn da Quebrada em cena do clipe 'Enviadescer' (Foto: Divulgação)
MC Linn da Quebrada cresceu no interior paulista em uma família simples e religiosa. A mãe, alagoana, era empregada doméstica, e ela cresceu entre Votuporanga e São José do Rio Preto, até retornar à zona de leste de São Paulo e se tornar uma das novas vozes de um movimento crescente na música brasileira: a dos artistas que colocam em pauta a questão do gênero.

Transexual de 25 anos, MC Linn não fala só sobre os direitos LGBT (Transexuais, Lésbicas, Gays e Bissexuais), mas trata também do direito de ser afeminada, ou de "enviadecer", como ela coloca em uma das suas músicas com conteúdo bem explícito e cujos videoclipes já têm mais de cem mil visualizações no YouTube.

"Passei uma vida inteira ouvindo que 'ser viado não é uma coisa legal', que ser travesti é perigoso e vai trazer problemas. E eu não estou dizendo que é fácil, mas que é possível e lindo ser transviada - é uma possibilidade feliz. Eu venho de uma criação religiosa muito rígida, eu era testemunha de Jeová, então tive o corpo muito disciplinado, domesticado pela Igreja e pela doutrinação, que me privava dos meus desejos. Era como se ele não me pertencesse. Até eu tomar o bastião de liberdade há alguns anos e me assumir", conta.

Ela chegou a fazer alguns raps, mas foi no funk que encontrou a melhor forma de se expressar.

"Eu vivi na periferia com minha mãe, e lá a música comunica- música como o funk, o samba, de preto e preta, de linguagem direta, que movimentam o corpo. Também ali tive contato com as músicas LGBT, músicas de bicha, que estão nas baladas. E percebi que esse tipo de música me movimentava mas estava somente relacionada ao universo machista. E por acreditar que a música também é um espaço a ser ocupado e contaminado, por que não eu fazer algo que eu quisesse ouvir? Foi aí que eu decidi começar meu trabalho com as minhas histórias".

O boom do gênero na música

Assim como Linn, outros artistas como Liniker, As Bahias e a Cozinha Mineira, Jaloo e Johnny Hooker também vêm abordando a questão de gênero - nem sempre por discursos explícitos nas letras, mas pela exposição de mídia e por se colocarem como são - trans, não binários, travestis - ao público.
Linn atribui esse boom de artistas que tratam de alguma forma da questão de gênero às redes criadas pela internet e reconhece que "há interesse em que isso se torne um produto de alguma forma".

"Estamos num momento de tomada dos meios de produção, a internet facilitou as coisas. A diferença é que hoje nós conseguimos ser vistas: consigo ver que tem trans lá no Nordeste fazendo coisas maravilhosas de que eu não iria saber antes. Eu mesma, bicha da favela, consigo ser vista e conhecida pelo meu trabalho. Além disso, acho que há um interesse mercadológico nisso tudo."

'Terrorista de gênero'

Ativista, MC Linn colaborou com a formação da ONG ATRAVESSA (Associação de Travestis de Santo André) e se considera "bicha, trans, preta e periférica. Nem ator, nem atriz, atroz. Performer e terrorista de gênero".

Questionada pela reportagem sobre a necessidade de ser uma "terrorista" nesse sentido, ela responde com outra pergunta: "Será que não fomos por tempo demais inofensivas? Não está na hora de a gente passar a dar medo, a assustar? E também a se assustar, se pôr em risco? Por isso me coloco nessa posição: eu quero duvidar da imagem consolidada há tanto tempo no espelho. Eu quebro esse espelho para que possa me reinventar. É preciso ter muita coragem para sair como eu saio na rua, porque as pessoas não matam só com faca ou com balas. O discurso também mata. Os olhares pelas ruas também nos matam e nos oprimem, e é preciso que todos os dias eu mesma me encoraje para poder ser".

E trabalho dela, além de autoral tem também um viés político de "empoderamento".

"Tudo que a gente faz é politica. A roupa que eu escolho para sair na rua é política, a escolha de sair maquiada ou não também. Cada palavra que eu digo numa musica ou numa conversa informal é política, tem efeitos e diz respeito a uma atitude, a um posicionamento".
MC Linn aposta no efeito que a obra dela pode ter - para si mesma, para outras trans e para o mercado da música no Brasil.

"Apesar da facilidade maior de produzir, não é fácil entrar em alguns espaços. Para algumas pessoas como eu, às vezes não é fácil nem sair de casa, é um ato de coragem tomar o próprio corpo. Então eu espero que minha música consiga ser ouvida e com isso, outras pessoas possam ter a coragem de ser, de existir, e a gente possa estabelecer esses vínculos para sobreviver. Eu não sou a rainha do empoderamento, uma diva, nada disso. Eu sou só uma bichinha da favela, mais uma, como qualquer outra - e qualquer outra também pode produzir."