quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Abuso sexual na infância e a fragilidade moral

O sociólogo Luis Flávio Sapori constata que “a violência brasileira não é mais produto da miséria e da pobreza; tem origem na fragilidade moral da sociedade”.

Ou seja, ele analisa, de acordo com os dados atualmente expostos, que o país avançou economicamente, apesar da crise; deu passos largos na área social e educacional como fruto de tantas políticas públicas implementadas pelos governos dos últimos anos; todavia, contrapondo-se a isso, os índices de violência, seja qual for ela, continuam alarmantes.

Nesse sentido, roga-se atenção para a violência do abuso sexual na infância, que, muito mais que física, é uma violência que agride toda a personalidade da criança/adolescente vítimas dessa prática, deixando sequelas pelo resto da vida, traumas insanáveis.

Mas, é necessário perguntar: como é possível um país que avançou tanto em diversas áreas ainda apresentar um número tão elevado desse tipo de prática criminosa?

Ressalta-se, ainda, que os casos que chegam ao conhecimento da população ainda são um número bem menor do que realmente ocorre, isso porque o abuso sexual na infância, muitas vezes, está restrito ao ambiente familiar.



Segundo Sapori, a fragilidade moral é o grande vilão da sociedade brasileira contemporânea. Associando-a com o abuso sexual, pode-se notar essa crise de diversas formas.

A primeira é quando se observa o seu principal agressor: dados apontam que, comumente, ele é um membro da mesma família da vítima, apresentando ligações afetivas com ela e submetendo-a ao medo, à violência, ao sentimento de culpa por não compreender o que está acontecendo, e muitas vezes até induz a ver essa situação como algo normal.

Ao lado disso, as pesquisas também mostram que os demais membros da família, quando têm conhecimento da prática criminosa, acabam resguardando o agressor com o escopo de não “destruir” a família.

E, por fim, a própria sociedade põe uma venda nos olhos para deixar de lado essa problemática. Desse modo, na conjuntura que ali se forma – agressor, família, vítima e sociedade – é firmado um pacto de silêncio, que, além de proteger o criminoso, contribui para a manutenção dessa prática; logo, atestando a fragilidade moral presente na sociedade contemporânea, em que os “valores morais” acabam sendo invertidos em prol da manutenção de uma família, por vezes, fictícia e não afetiva, como realmente deve ser.

(Brena Santos – advogada)

Coluna do dia – 13 de setembro de 2016

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