quinta-feira, 15 de setembro de 2016

'Vi que estavam querendo me matar', diz travesti agredida no Rio

A travesti agredida em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio afirmou, em entrevista ao Bom Dia Rio, que acredita que seus agressores tentaram matá-la. Já sua irmã, que presenciou a cena, reprovou a passividade dos espectadores da cena. "Ela estava com o rosto sangrando no chão e ninguém se levantou para ajudar", disse.

A violência ocorreu no último domingo (11), depois que a travesti Taísa e sua irmã entraram numa van. Segundo elas, um dos agressores começou a insultar Taísa com ofensas homofóbicas. "Há seis anos sou travesti e nunca sofri preconceito. Foi a primeira vez. Acho que os caras já estavam ali mesmo para fazer maldade com alguém. Onde o cara vai levar uma faca? Era alguma coisa que ele queria, ou assaltar ou matar mesmo", afirmou Taísa. 

A discussão evoluiu para agressões físicas, que foram filmadas e causaram revolta na internet. A travesti contou que ficou impressionada com o vídeo. "O que eu vi naquele vídeo era que eles estavam querendo me matar", disse Taísa, que continuou apanhando quando já estava desacordada no chão. A irmã dela também foi agredida. Segundo a polícia, antes disso, a travesti tinha conseguido tomar a faca de um dos agressores e esfaqueá-lo.

A polícia diz que a motivação do crime foi homofóbica. Os três suspeitos foram identificados na terça-feira (13) e presos nesta quarta (14). Segundo investigadores, o homem sem camisa que aparece no vídeo é Rodrigo Luiz Silva Soares. Os outros dois são Jorge Batista Ignácio (de camisa branca) e Cleiton da Silva (que aparece no final do vídeo segurando uma camisa na mão).

Travesti ficou com ferimentos na cabeça e outras partes do corpo. Ela apanhou até desmaiar (Foto: Reprodução/TV Globo)
Travesti ficou com ferimentos na cabeça e outras partes do corpo. Ela apanhou até desmaiar (Foto: Reprodução/TV Globo)

Arrependimento
O delegado Daniel Mayr, da 36ªDP (Santa Cruz), afirmou que os suspeitos da agressão se disseram arrependidos em depoimento, após serem presos temporariamente. Eles também alegaram "legítima defesa", o que foi contestado pelo delegado.

"Eles demonstraram arrependimento e consciência do risco que colocaram a vítima. No [caso do] Rodrigo você via isso, mas ele preferiu seguir aquela linha de não se comprometer. As agressões ele reconheceu, disse que era ele e que perdeu a cabeça e ficou nervoso. Todos eles, principalmente os outros dois, perceberam que colocaram a vida da pessoa em risco pela característica inúmera de golpes e pela circunstância que a vítima estava", disse o delegado.

Mayr afirmou ainda que os homens confirmaram que bateram na travesti quando ela estava desmaiada.

"O que não há é legítima defesa em relação aos autores, porque tem uma pessoa sendo agredida, uma pessoa por três, já cabe uma desproporcionalidade de legítima defesa, e aquela pessoa estava caída e desmaiada. Inclusive, foi perguntado pra eles, e eles tiveram que responder que a pessoa já estava desmaiada. Eles chutavam enquanto a pessoa já estava desmaiada."

Segundo os depoimentos, Rodrigo estava agredindo Taísa fora da van, enquanto os dois amigos dele continuavam no veículo. Depois, Jorge Ignácio e Cleiton descem e se juntaram ao primeiro agressor.

"Eu perguntei: 'Você saiu pra agredir a pessoa por quê? Qual foi o motivo se você diz que estava dormindo?'. [Os agressores respondem:] 'Ah, porque eu fui ajudar o meu amigo'. Aí eu insisto mas perguntas: 'Qual tipo de ajuda o seu amigo estava precisando diante de uma vítima que já estava caída?', aí ele não sabe responder. 'Qual a necessidade de agredir uma pessoa que já está desmaiada com golpes na canela?'. Eles também não souberam responder", disse o delegado.

Mayr afirmou que, para a polícia, os agressores "não tinham controle nenhum sobre a consequência do que poderia advir daqueles golpes". Segundo ele, os suspeitos vão responder pelo crime de tentativa de homicídio.

Um inquérito foi instaurado e diligências foram feitas para apurar o crime. Também foram analisadas as imagens do espancamento e localizadas as vítimas, que contaram em depoimento os detalhes do crime.

Vítimas

A travesti e a irmã foram levadas ao Hospital Municipal Pedro II após as agressões, assim como Rodrigo, que sofreu um golpe de faca na barriga. A vítima alega que tomou a faca de um dos agressores. Todos estão fora de perigo, segundo a polícia.

A travesti afirmou em depoimento que foi alvo de agressões verbais ao entrar na van e por isso teria golpeado Rodrigo. Ainda segundo o delegado, a irmã da vítima também confirmou a versão, mas Rodrigo negou que tivesse feito algum xingamento dentro da van. Os outros dois amigos de Rodrigo estavam dormindo dentro da van e só foram acordados na hora em que ele já estava fora da van e tinha sido golpeado com a faca pela travesti.

"A vítima diz que estava sendo agredida dentro da van e admite que praticou alguns golpes contra ele pra se defender", afirmou Daniel Mayr.

A irmã de Taísa contou que ficou triste com a falta de reação das pessoas que viam a cena. “No momento que eu estava tentando ajudar ela tinha muita gente ali e eu pensava que alguém ia vir para ajudar, mas ninguém veio. Eu fiquei muito triste. Tinha gente sentada, olhando. Ela estava com o rosto sangrando no chão e ninguém se levantou para ajudar, pelo menos para segurar. Não era para bater, era para segurar a situação, porque o ponto que estava chegando ali era para ela ir à morte. Não era para ela estar aqui”, disse.

Vídeo das agressões

O vídeo com a agressão continua sendo compartilhado na internet, com centenas de visualizações nas redes sociais. A imagem já teve mais de 4 milhões de visualizações, 22 mil comentários, 18 mil curtidas e 45,5 mil compartilhamentos.

FONTE G1

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